10 de junho de 2024

FOLHETIM

 Nei Duclós 


Descobri tardiamente certo best-seller

Pois moro confinado num pequeno espaço 

E nunca saio fora dos redutos 

Onde conservo poucos livros sóbrios 

Os que não alimentam modismos literários 


É uma descoberta triste ver tanto sucesso

Que já não faz efeito pela ação do tempo

Mesmo que seja recente no calendário

E a fila de autógrafos ter dobrado a esquina


É como chegar atrasado no funeral do amigo

Restas flores murchas sem nenhum sentido 

O que foi homenagem agora também morre

E o sepulcro solitário amarga esquecido


Não que eu despreze o frisson das vendas

O alvoroço às vezes acerta, mas é raro

Tenho volumes preciosos em meus armários 


Normalmente isso que parece o máximo 

é apenas o recorrente marketing

Prove esta novidade você se sentirá nobre

Dentro da grande redoma do privilégio 


Melhor ficar na tua, ogro perverso

Leia a Lua, que não te engana à toa

Ela publica capítulos de um folhetim modesto 

Que são as fases que não somem nunca

Pois sempre voltam como o amor eterno 


Nei Duclós

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