Nei Duclós
Não sou mais aquele personagem
Porque o tempo contou toda verdade
Restou o indivíduo sem disfarces
Pifaro de banda, tambor de couro de gato
Sujeito dos mandados
Pescador de piava
No rasinho do arroio
Abro num lance toda a tarrafa
Moro agora no rio do meu pai
Não fui herói, semideus lendário
Guerreiro de quatro costados
Navegador cheio de bossa
Aprendi a ler na Caminho Suave
Uso o guarda -pó e cabelo engomado
Sou o que não partiu para a capital
Na avenida lotada
Vi os capacetes se aproximarem
Deixei aí de ser soldado
Mas salvei a poesia debaixo do braço
Minha mãe varre a calçada
Não por obrigação mas por hábito
Tem olhos exaustos de chorar por mim
Filho pródigo, fugitivo escolar
Eu tinha no olhar o destino
sórdido
Dos abandonados
Nei Duclós
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