16 de julho de 2017

ARTE NO RITMO DA PALAVRA



Nei Duclós

Poesia é tirar o gesso da percepção que é formatada pelas palavras. Caímos nas armadilhas ao abordar e comentar os assuntos. O poema precisa ter força suficiente para puxar o olhar que pede socorro nas celas de vidro.

Quanto mais estranho for o verso, mais chance de quebrar o lacre. Acostumar-se ao que a arte instaura em nós é um exercício de libertação interna, que luta contra as recaídas. Não evoluímos ao sintonizar com a cultura. Regredimos sempre às origens da treva.

É preciso o esforço permanente de interação com a obra que existe em nosso auxílio para cruzar essa barreira que nos mantém afastados da criação e da paz de espírito, que é o movimento interno iluminado pela natureza das contradições. Viver dá trabalho. Envolve todos, numa gangorra de emoção e pensamento.

Escrever ou ler é sempre uma atividade autoral. O poema existe no momento em que é percebido. Antes disso está confinado no sonho de quem mergulhou no verbo. Pensar é lidar com palavras, escolhidas por nós ou pelos outros. Arte é agir. Mesmo quando há silêncio absoluto, terreno propício para a respiração lidar com o próprio ritmo.


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