Nei Duclós
Poesia é tirar o gesso da percepção que é formatada pelas
palavras. Caímos nas armadilhas ao abordar e comentar os assuntos. O poema
precisa ter força suficiente para puxar o olhar que pede socorro nas celas de
vidro.
Quanto mais estranho for o verso, mais chance de quebrar o
lacre. Acostumar-se ao que a arte instaura em nós é um exercício de libertação
interna, que luta contra as recaídas. Não evoluímos ao sintonizar com a
cultura. Regredimos sempre às origens da treva.
É preciso o esforço permanente de interação com a obra que
existe em nosso auxílio para cruzar essa barreira que nos mantém afastados da
criação e da paz de espírito, que é o movimento interno iluminado pela natureza
das contradições. Viver dá trabalho. Envolve todos, numa gangorra de emoção e
pensamento.
Escrever ou ler é sempre uma atividade autoral. O poema
existe no momento em que é percebido. Antes disso está confinado no sonho de
quem mergulhou no verbo. Pensar é lidar com palavras, escolhidas por nós ou
pelos outros. Arte é agir. Mesmo quando há silêncio absoluto, terreno propício
para a respiração lidar com o próprio ritmo.
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