Nei Duclós
Não temos tempo
Tempo não é casa, templo
chave que recebemos na planta
Não vale ações, não é dinheiro
Nem possui índice de poupança
Não tem garantia de idade
não faz parte da segurança
Não temos o tempo que parece eterno
a inumerável configuração da infância
a sórdida solidez da vida adulta
Tempo não é vida, é apenas tempo
imponderável acervo de virtual areia
a escorrer como fonte imaginada
como se real fosse
Não temos tempo para aprender piano
deixar um romance para outro plano
sonhar em ganhar o prêmio
Não possuímos esse patrimônio
porque se trata de perda e não ganho
Nossa desvantagem é o sonho
que pomos no bolso para mais tarde
Não temos o tempo que se repete
em datas cultivadas de promessas
linhagens que se sucedem, fugas em massa
a guerra na porta, a brutal fronteira
o pandemônio nas manchetes
ou a felicidade alheia a celebrar o esboço
do que parece ser um equilíbrio falso
Não temos mais tempo, tempo nenhum
nossa identidade já não nos pertence
não há tradução para nosso verbo
somos estrangeiros no temporal precoce
que se abate sobre as férias, o firmamento
Só nos resta aceitar o que nos escapa
como pluma ao vento, fina esperança
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