18 de outubro de 2014

O QUE ME TOCA


Nei Duclós

Não te economizo, desperdício de outubro. Gasto até o último suspiro.

Perco versos, mas não me importo. Sei que guardas em doce invólucro

Retribuo o que me toca. Teu verso, tua boca.

Não sei onde estava com a cabeça quando escrevi aquele verso O poema me usa para o teu divertimento

É cedo ainda para soprar o vento. Por enquanto o sol paira solene sem nuvens que o atormentem.

Nem todos os dias são iguais. Em alguns me queres mais.

Escolheste a flor que te representa. Sempre que passo por ela, te enxergo

Não chore lendo o poema. A palavra não tem lenço.

A poesia é perigosa. Parece amor, mas é coisa pior.

Capricho no poema porque essa é uma chance única. Depois o cosmo se encarregará de confirmar que tudo não passava de perda de tempo

Quando é amor, dizem que é engano. Concorde e fuja com ela para longe.

Fiquei sem palavras quando te vi. Tinhas colhido todas.

Não é para ti que eu canto. Mas para o que se perdeu quando te foste.

Palavras de adeus. Navios que partem antes de chegar.

Amor é gota de sereno antes de sumir diante da imensidão do amanhecer.

Tuas exigências significam que mordeste a isca. Só que custo a acordar da sesta na pescaria distraída. E reclamo até cair a ficha.

Nossa música jaz na juke box de um resto de bar à beira de uma estrada fechada.


MUSA PERDIDA


Inútil te invocar, musa perdida
perdi o raio que tua luz fazia
quando Cupido afiava as flechas
uma após outra, na outra vida


CULTIVO

Cultivo da palavra, planta sem valor
que usa qualquer terra.
Brota, alimentada pelo sereno.
Resiste ao sol do deserto.
Gera devaneio ao dobrar-se
ao vento.
Combina flor com fermento


CARDUMES


Sim, tua terra tem mar
tu és o mar, minha sereia
Cardumes no teu olhar
sorriso de maré cheia
Todos te querem voar
asa solta sobre a areia


TUDO É MAR

Tudo é o mar
e o resto é o meu coração
avistando terra.
Tudo é sal
e o resto é o amor
pedindo água.


 RETORNO - Imagem desta edição: Grace Kelly.

Nenhum comentário:

Postar um comentário