Nei Duclós
Quando enfim pude colocar teu rosto
impregnando os roteiros mais íngremes já era tarde. Tinhas sumido de súbito.
O vento varreu cuidadoso os cantos
da terra para que eu depositasse ali meu sonho, que se desfez em sementes onde
medraram improváveis flores.
Marcamos encontro fora do micro.
Levamos um susto. Não éramos de vidro!
Repartes comigo a palavra. A poesia
é o pão de uma vida nova.
Os velhos que tomam sol no inverno,
quando partem, levam uma gota da luz para as salas escuras do Paraíso?
Deixamos de lado as palavras
românticas. Negociamos ao redor de uma mesa. Repartimos tarefas. Foi quando uma
gota de mel impregnou teu rosto. Era o suor do teu sonho, oculto por um tempo.
ESPARSOS
1.
Inventas a flor
carne longínqua
perfume de algum
remoto paraíso
2.
Tinhas o sonho
que me deste
para ficar a sós
com teus espelhos
3.
Abro os olhos
para teus pássaros
vindos do nada,
nossa visão
escuro amálgama.
4.
Já nos sabemos de cór e salteado.
Memorizamos gestos.
Escutamos antes que o outro diga.
Encontro é redundância.
Só amor não se repete.
Só o coração é um jardim
inédito
DISTRAÇÕES
- Por que permitiste o surgimento do
Mal? perguntou o anjo.
- Deixei o face aberto, disse o
Senhor.
Romance é redundância. Eco do eu te
amo.
Publico de novo o que escrevi há
tempos. Quando eras tu, o dia todo.
Arte é vaidade. Não ser nada é a
verdadeira humanidade.
JACK DE NOVO
- Não me pareces um guerreiro, disse
o repórter. Muito doce para tanto sal.
- Aguardo ordens do meu pai Netuno,
disse Jack o Marujo. Enquanto isso me civilizo com a Sereia.
- Uma infinidade de peixes nos
seguem por toda a parte, disse a Sereia.
- São os sentimentos, molhados de
espanto, fiéis qualquer que seja a rota, disse Jack o Marujo.
- Perdes amor a cada dia, disse a
Sereia. Secarás antes da próxima Lua.
- Conto com tua diplomacia, disse
Jack o Marujo. Interceda para que eu possa fazer um barco da Crescente.
- Qual será seu rumo?:
- Assim navegarei de novo até o mel
da tua aventura.
- Todas as ilhas estão no mapa?
perguntou a viajante.
- Nem todas. Algumas inventei para
abrigar meu sonho, disse Jack o Marujo.
- Qual é o limite do mar? perguntou
o garoto. A África, ou o horizonte?
- O nosso olhar, disse Jack o
Marujo.
- Nada disso existe. Sereia, amor,
navio fantasma, disse o pragmático.
- Então fale só com os parafusos,
disse Jack o Marujo.
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