17 de fevereiro de 2012

SEMPRE


Nei Duclós

Você ficou para sempre. Gostou mesmo daquele poema.

Todo mundo faz poesia, ela disse. Só eu faço para ti, respondi.

Para que tantos versos? ela perguntou. Alguém tem que fazer o serviço, respondi.

Fazes versos para quem voa, ela disse. Gosto das andorinhas, ele respondeu.

Bastante de mim para teres tudo.

Foi só um sonho. Por isso existe.

Então diga que me ama com rima, ela disse. Eu te amo com rima, respondi. Mas precisa ter paciência, esperar minha obra prima.

Quem é você? ela perguntou. Sou o sujeito mais perigoso do planeta Terra, respondi. Alguém acredita nisso? ela insistiu. Não, mas soa bem, falei.

A platéia está cheia! disseram os estreantes, em pânico. Acalmem-se, disse o veterano. Contem as cabeças e multipliquem pelo valor da entrada.

Você se despede quando me vê. Vou fazer o mesmo. Dizer adeus para mim mesmo toda vez que teu rosto aparecer na minha frente.

Então diga que me ama com rima, ela disse. Eu te amo com rima, respondi. Mas precisa ter paciência, esperar minha obra prima.

Você é complicado, hem, ela disse. Está bem, não quero saber teu signo, falei.

Deixa de desculpas e me beije, pedi. Já perdemos tempo fingindo.

Pensa que me engana, conversador, ela disse. Você falou o tempo todo, repliquei.

No fundo nada sabes do amor, ela falou. Me reprove todos os anos, pedi.

Você não tem um coração, ela me disse. Está contigo, respondi.

Vou-me embora de ti, disse a confidente. Deixa os segredos, respondi. Vou precisar deles

É bom estar aqui, disse a viajante. Só de passagem, disse o amante.

E se eu resolver ficar? ela perguntou. Desfaço tuas malas definitivamente, respondi.

Só quem vai embora tem chance contigo? ela perguntou, distante. Sim, respondi. A falta é a única maneira de saber quem amamos.

Demos muitas voltas mas no fim pousamos. Amor é quando se aninha o coração retirante.


RETORNO – Imagem desta edição: obra de Claude Lorrain.

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