5 de fevereiro de 2012

THE IRON LADY: A DAMA DE LATA


Nei Duclós

Algumas conclusões podem ser tiradas do filme de Phyllida Lloyd , A Dama de Ferro (2011), escrito por ela e a premiada dramaturga Abi Morgan, com a Monstra, Meryl Streep, no papel de Margaret Thatcher, coadjuvada pelo excelente veterano Jim Broadbent no papel do marido bobão . Primeira conclusão é que os homens são fracos e deixam para as mulheres tomar as decisões mais difíceis. Segundo, que mais vale o gênero do que a ideologia. Terceiro, que a Primeira Ministra britânica por 11 anos tinha uma vida amorosa e sexual. Quarto, que o conservadorismo é a ausência da dúvida. E quinto que privatizar tudo, sucatear os empregos e destruir os sindicatos fez bem para o mundo. À parte esses desacertos, é um bom filme, competente nos cruzamentos entre o resgate via ficção e as cenas de documentário.

É sobre a mulher famosa por ser como o Homem de Lata do Mágico de Oz, que não tinha um coração. Considerada de ferro pelos soviéticos, o metal que o identifica na política sugere sacanamente uma virgindade de nascença e eterna. É contra essa idéia que o filme se insurge. Por incrível que pareça, Tatcher era mulher ! Isso a Monstra deixa bem claro com seus vestidos vermelhos,seus sapatinhos mimosos, seus trejeitos soberanos com os seios diante dos ministros apalermados, sua vida conjugal na viuvez e na Terceira idade, quando enfim encontrou o marido, já morto, em espírito, no dia a dia, coisa que jamais fez quando estava na política.

Tatcher decretou o fim da Guerra Fria assim como os ditadores aqui no Brasil decretaram o fim da ditadura. Ela simplesmente lutou para manter a hegemonia dos países ricos. Para isso sucateou a economia desregulamento-a, abrindo portanto a guarda para a crise interminável em que se encontra hoje o mundo. Desnacionalização da moeda e da indústria, enfraquecimento da representação operária, política externa imperialista e agressiva, indiferença social são apresentados no filme como obra de uma mulher de coragem que mudou o mundo. Trata-se de uma hagiografia, mas muito bem feita. Somos tentados a concordar com o filme até que ele, de repente, termina.

Voltamos então à luz. Tatcher encarnou uma necessidade britânica de manter-se à tona num mundo em transformação. O Império britânico é um sobrevivente e age como tal. Não mudou de rumo para beneficiar a mudança, antes radicalizou os processos em favor de uma hegemonia perdida, mantendo o topete do leão que pode ser comparado aos penteados da sua Primeira Ministra. A Dama de Lata encontra seu coração no fim da vida, segundo o filme, ao repartir seus momentos com um fantasma, mas é desmascarada por ele na hora da despedida. Ela implora para que fique, depois de jogar todos os seus pertences fora. Você sempre esteve por sua conta, diz ele, e desaparece.

Tatcher não precisava da família (escorraça a filha que está perto, apesar de lamentar a ausência do filho distante) , mas de si mesma. Está só, como na cena em que fica isolada na sala vazia depois de humilhar seus ministros. Meryl treme, em favor da biografada. Mas sabemos que por trás de uma grande mulher está a mesma mulher. A que vimos em ação, defendendo o império, matando argentinos e tirando do estado inúmeras responsabilidades sociais. Foi imitada por países trouxas como o nosso, porque privatizar virou um grande negócio. Pior para nós, pior para o mundo.

O que sobra do filme é a Meryl Streep, sempre perfeita. Ninguém pode com a maior atriz da atualidade. Ela sim, é imortal, não sua homenageada, que vai virar pó na esteira da História.

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