29 de fevereiro de 2012

O VIVER E O VERBO


Nei Duclós

O que pega é a palavra impregnada do dia. Não a notícia, ou a rotina. Mas a relação entre o viver e o verbo, entre emoção, criação e lógica

Mídia quer intermediar percepção e jogo bruto da vida. Não consegue, é fake. Livros trafegam em outra esfera.Sobra a frase certeira, úmida

Quem quer distância sai da reta

Midia social perdeu a graça. Vamos voltar ao mimeógrafo.

Já sabemos o que você pensa. Agora dá licença.

Tudo o que falo tem uma âncora que não encontra o fundo. Jogo no mar para ver se estabilizo o barco, mas encontro só o infinito

Dei uma palestra para as algas. Elas se retorceram todas.

Perdi o rumo do tema. Fui encontrá-lo olhando para o horizonte, meio alheio.

O evento foi um fracasso. O dia lá fora estava lindo.

O vazio vem da falta de sintonia entre palavra e poder na sobrevivência. Desconfiamos da fala dos outros, perdemos o encanto da diferença

A facilidade de acesso proporcionada pela internet é diretemente proporcional à dificuldade de acesso. Basta a vontade do interlocutor

O que o senhor faz para viver? perguntou o promotor. Trabalho com hipóteses, disse o delegado.

Podemos assistir o Apocalipse? perguntaram os anjos. Só para assinantes, disse o Senhor.

Não me force a escrever qualquer coisa. Nem ache que me engana manipulando minha vontade

Mas eu tenho lugar reservado no Paraíso! reclamou a alma recém chegada. Não está incluído no pacote, disse o encarregado.

Aristocracia cultural, que bebe na classe social mas não se confina a ela, é um racismo up-to-date, metido a correto e excludente


RETORNO – Imagem desta edição: coreografia de Pina Bausch, do filme de Wim Wenders.

Nenhum comentário:

Postar um comentário