13 de fevereiro de 2012

DOMÍNIO


Nei Duclós

O sorriso é amostra grátis do teu balcão de delícias. Pago o mico para adquirir todo o estoque. Abusas de mim, absurda.

Para que segredo? Nosso amor é tão antigo que já é domínio público.

O dízimo do meu desejo é o beijo. O resto da dívida é na cama.

Não faço carreira de poeta, não me interessa. Escrevo o que eu quero. Sou livre para contrariar o hábito de leitura que decidiste para meu espírito.

Ainda é cedo? Não concordo. A manhã é apenas o momento em que a noite cansa do escuro.

Antes mesmo do café me pedes mais do que foi intenso na longa permanência dos nossos corpos. Sentiste saudade no intervalo de um segundo.

Estavas ocupada e pediste um tempo. Depois quis recuperar o estrago. Agora sou eu que decido a agenda. Me aguarde, eternidade.

O que faço contigo antes que amanheça? Talvez te diga que mudei de idéia. Em vez de viajar, fico.

Elementais existem na natureza. Quem defende o meio ambiente está cultivando fadas.

Não me enveneno com palavras alheias ditas a esmo. Moro num outro concerto.

O dia acabou. Não me respondeste.

Deus não joga dados. Joga pôquer. Com os ateus. Gosta quando blefam fingindo acreditar nEle. Poderia ganhar sempre, mas erra de propósito. E ri.

Alcanço a blusa, passo a mão no teu vestido, aperto teu laço de fita, amarro teu cabelo. Que mais queres de mim, magnífica?


É tudo mentira: o amor, o namoro, o romance. Então posso dizer como te vejo. És feita de carne e osso.

Estavas pronta para cair no laço. Aí contei a verdade.

Cansou de me ver? Peça demissão do poema. Somos uma corporação sólida.Não precisamos de ti, maravilhosa.

Agora me vou, junto com o vento. Levante a roupa na altura dos olhos, talvez eu vibre.

Não me peça nem me diga coisas. Não tenho onde guardar.

Já ameacei ir embora. Mas nem deste bola.

Sapato trocado, meias com fiapos, saia surrada, batom no queixo. Assim te apresentas para o expediente? Vai terminar de amar e depois volte.

Peguei uma virose, a solidão. Preciso de uma dose forte de você por dia.

Não se repita, disse ela quando falei pela milésima vez. Desse jeito vou ficar imune aos teus truques. Não quero entender a mágica.

Cansei e sumi. Foi quando ela voltou, por coincidência. Sorte que ainda lembrava do seu cheiro.

Ninguém ama o dia todo. Guarde para a happy hour, disse o conselheiro. Cada segundo é seis da tarde, respondi.


RETORNO – Imagem desta edição: Hillary Swank.

Nenhum comentário:

Postar um comentário