14 de fevereiro de 2012

CLANDESTINA


Nei Duclós

No Dia Internacional do Amor fiscalizo as fronteiras, clandestina.

No Dia Internacional do Amor abrimos mão dos registros. Somos só o coração sem batismo.

No Dia Internacional do Amor chamem a polícia. Todos os apaixonados caíram no abismo.

No Dia Internacional do Amor de um tempo sem brilho, apostamos no fogo dos nossos suspiros.

Trabalhe normalmente no dia de hoje. Te busco mais tarde. Levarei de presente a Lua.

Esse negócio de dia do amor é bobagem. Bom para o comércio. Por isso basta um cartão folheado a ouro dizendo o que não ouso dizer, rainha.

Acham que baixei a guarda. Preferem me ver no deserto dizendo alto lá para quem passa. Tirei a farda e cruzo o mar com uma flor em tua homenagem.

Você é tão pouquinha. Compartilha quase nada de ti, joaninha.

Macia e distante, és o contraponto desta vida sem sentido. Não dá sinal de vida para não gastar carisma. Me deixa entre as pedras enquanto voas, infinita

Tanto verão consolida teu coração mais acima: perto do mar nos ofícios, longe de mim quando brinca.

Ela passa voando. É uma boneca de pano na cauda de um novo quebranto, metade flor do sereno, metade quarto crescente .

Poeta não canta lamentações. Poeta chuta o balde.

Não sei, acho meio frouxo, disse o crítico. Vou trazer a chave inglesa, disse o poeta.

Só a tela é cinema. Só a palavra, poema. Só o que está dito é memória. Só o teu olhar meu mistério.

Você respira por guerlas nas grutas de coral, onde nem os mergulhadores chegam. Por isso estendo anzóis por toda a costa do Pacífico.

Peço segredo do que te escrevo. Há guardas em busca de prêmios. Quem descobrir meu verso para ti ficará rico. O poder não permite que eu te tire do sério.

Te excluem quando entras segurando a bandeja. Ninguém te convida. Vais então para um canto e me liga. Oi amor, dizes. Venha almoçar comigo.


RETORNO – Imagem desta edição: Ingrid Bergman em Por Quem os Sinos Dobram.

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