22 de fevereiro de 2012

CHARME


Nei Duclós

Dorme teu corpo que é puro charme, entregue à noite o que me deslumbra.

Estava quieta em seu conflito, o de ser mulher num mundo bruto, quando despertou-lhe a pétala que se desprendeu do seu suspiro.

Quem te entende, criatura sem conserto, a não ser o sonho, esse intermediário da glória?

Ficou tarde demais para o poema, que pegou no sono em teu colo.

Resta a longa expectativa do teu beijo, que esperei por um tempo, mas que afinal veio.

Pensavas que eu iria embora sem te dizer o que nos sustenta, coração sem medo?

Mas para isso existo, não para o poema, mas para o prazer que sentes ao me ver por perto.

Quero que saibas que jamais desisto. Faço parte de uma corte insolúvel, a do amor e seus jardins suspensos.

Por isso ando meio estranho, como a sentir desconforto no mundo avesso. É o sentimento me dando rasteira. Você acha graça, meu desassossego.

Se soubesses como és bonita, não terias essas crises de desespero. Bastaria ouvir os pássaros brigando por ti, maravilha.

Sim, eu exagero. Quero levar daqui o que sobra em nós, magnífica.

Estava perdido antes de sentir teu cheiro, meu norte e meu mistério.

Agora tira o que nos divide, essa armadura de momentos tristes, e deixa eu atingir o que nos renova, tua fonte de puro açúcar.

Estavam todas reunidas em seus assentos, lençóis de linho, cálices de vento, quando então cheguei com a palavra que arrepia a pele.

O poema é pretensioso, acha que arrebenta. Mas é apenas espuma diante de ti, portento.

Um beijo de boa noite, disse o anjo. Fiquei com gosto de estrelas, disse ela.


RETORNO – Imagem desta edição: Rita Hayworth.

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