15 de fevereiro de 2012

PELE


Nei Duclós

O poema é a tua pele.

Passei o dia bem. Acordaste no meu ouvido e dormirás no meu abraço.

Não ceda a esse bandido. Saia da cerimônia e venha comigo. O coração de uma mulher não se negocia, disse o amante e saiu a galope com a noiva na garupa.

Não esqueça os beijos, ela disse da janela do ônibus. Não estão contigo? perguntei. Os milhões que estão por vir, gritou.

Leve esses poemas para viagem, ele disse. Vou colocá-los na bolsa. O coração já está lotado deles, disse ela.

Sou feia, ela disse. Só quando vais embora, disse ele.

Adeus, disse ela. Não quer que eu te leve? disse ele.

Aqui ninguém pensa em amor, disseram na balada. Por isso ela ficou num canto, quieta. Até que uma gota de perfume saiu do seu rosto e atingiu um olhar

Amor é traiçoeiro, ficamos sempre em desvantagem. Quem pode com ele, quem pode sem ele?

Amor é normal. As pessoas perdem o chão e acham possível voar.

Não é bem assim, ela disse. Volte para sua cidade e espere meu chamado. Não, ficar de chapéu estendido na praça também não pode.

Amor não é egoista. Queremos o melhor para a pessoa amada. Desde que lhe falte tudo e me peça colo.

Sei que estás bem, mas não vem ao caso. Eu não estou bem, malvada.

Cristalizei na espera. Virei estátua de sal olhando nosso amor no passado enquanto fingias fugir das cidades devassas.

Não vou falar mais em saudade. É uma franquia em desuso. Melhor assumir logo que é pânico mesmo.

Acordaste ainda mais apaixonada. Vi pelo cheiro.

A realidade é que é falsa. O amor é real.

Por que existe tanta interrupção para o amor e para as coisas chatas não?

Meu rosto em teus tesouros, meu sonho soprando alto.

Deitado em teu piso e sobre teu teto, meu corpo louco por ti, minha poesia te vestindo, te despindo.

Não insista, ela disse. Só mais uma vez, a milésima última, ele disse.

Coisa boa, ela falou.



RETORNO – Imagem desta edição: Monica Bellucci.

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