17 de junho de 2010

PROBLEMAS DA EMPRESA FAMILIAR


Este é um texto para uma boa seção de Negócios aqui no Diário da Fonte. Trabalhei nesse nicho do jornalismo por vinte anos, tanto na imprensa quanto nas assessorias. Entrevistei mais de 300 empresários, sem falar nos grandalhões, de Luiz Furlan a José Ermírio de Moraes. Editei matérias sobre o assunto em inúmeros veículos e fiz também muitas reportagens a respeito. Uma infinidade de textos que escrevi depois de entrevistar empresários foi assinada por eles. Nada a estranhar. Sou ghost-writer da humanidade.

Gosto de comércio e indústria, não de especulação financeira. Gosto de fábrica e balcão, não de fusões. Gosto de lucro, não de juros. Gosto de livro-caixa, não de entesouramento ilícito. Não gosto de demagogia, por isso vou falar quais são os problemas da empresa familiar. O principal deles é o conceito de família. “Somos uma família” é a coisa mais mentirosa dentro de uma empresa. Família é outra coisa. Serve para a proteção e a sobrevivência. Empresa serve para o lucro. O atendimento preferencial ao cliente não existe porque a empresa é humana, mas porque visa o lucro. Isso não é uma maldade, é fato.

O patrimônio de uma família são os bens, a poupança, a educação dos filhos, a segurança de todos. O patrimônio de uma empresa não é a marca, a sede, o estoque, os colaboradores. Tudo isso pertence aos clientes. O patrimônio de uma empresa é o lucro. Sem o lucro, não há nada. Não adianta investir para “realizar um sonho”. Você investe para ter de volta mais do que gastou. Simples assim. Então vamos parar de frescura e ao mesmo tempo vamos deixar de ser cretinos. Porque nada mais cretino do que dizer que a missão da empresa é salvar o mico leão dourado e ao mesmo tempo jogar esgoto na sanga.

O que mais incomoda um cliente quando entra numa empresa familiar? Exatamente o conceito, o grude, a postura, os laços da família. Você se sente constrangido em entrar em casa alheia. Agora, se você sente que a empresa lhe pertence, ou seja, lá você vai encontrar o que procura e gosta, então é diferente. Você não precisa cumprimentar o idoso sentado na porta do estabelecimento, nem se apresentar, sem ser alvo de olhares. Você vai direto ao que precisa e é atendido com eficiência, sem nenhum laço “humano”, principalmente esse saco de perguntarem teu nome para repetirem à exaustão enquanto você tenta provar a roupa que quer comprar.

“Está bem assim José, gostou Aristides, ficou muio bem em você, Matilde!” Parem com isso. O cliente não seu parente ou amigo, ele simplesmente é o cliente, uma criatura do mundo dos negócios que precisa ser respeitada mas não “amada”, amado. Tmbém para isso não precisa mostrar frieza ou ameaçá-lo coma expressão “fique à vontade”. Empresas que deixam o cliente à vontade não tem atendente dizendo esse tipo de coisa, seria redundância. Agora, empresa que constrange quem entra faz questão de repetir jargões pentelhos como esse.

Não trate mal, não levante o queixo para a pessoa, não faça cara de estranheza.. O cliente não é o estranho, como acontece com as visitas na sua casa. Ele é o dono! Ele também tem lucro: é ser atendido à altura da sua necessidade. Não se importe se ele é o protagonista e você, empresário, coadjuvante. Você terá no banco o resultado do seu esforço. Isso parece chocante, mas não deveria ser. Indústria e comércio são atividades anteriores ao capitalismo.

E o capitalismo nada mais é do que um sistema que intensificou ações milenares pela sobrevivência. Ao mesmo tempo, desamarrou velhos sistemas coloniais que engessavam todo esse esforço. Essa dupla face do capitalismo, a que desencadeou as forças produtivas e ao mesmo tempo as distorceu, é o grande desafio dos últimos 200 anos. Não pode ser tratado, portanto, com a visão bocó do socialismo de galinheiro ou do reacionarismo aparelhado. Precisamos de luzes, de estadistas, de pessoas que enxerguem longe, que libertem as empresas de suas amarras, que pulverizem a indústria, o comércio e o consumo, para que haja riqueza para todos, dinheiro sem que as notas entrem em trabalho de parto para mais dinheiro sem que haja realidade no meio, suor, batalha, lucidez e coragem.

Precisamos de inteligência no comando do país e não algozes do discurso, bobalhões partidários, devotos do dizque-dizque. A nação tem fome de grandeza e a grandeza, de transcendência.

RETORNO - Imagem desta edição: a infantilização da clientela quando dizem "fique à vontade". Tirei daqui.

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