Responder na lata é uma arte. Sou mais vítima do que algoz nesse jogo refinado e bruto de não deixar para logo o que deve ser dito agora. Hoje, por exemplo, encontrei o Caloca, bom fotógrafo aqui da ilha. Ele estava à vontade, neste fevereirão de calor, indo ver um jogo de futebol. Bermudão, camiseta e sandália. Resolvi tirar uma lasca:
- Mas como estás Mané, Caloca. Tu não era um fotógrafo?
- E tu, não era um escritor? respondeu Caloca.
Tentei sair da arapuca, mas tinha perdido a parada. De bermuda, chinelo de dedo e camiseta, eu era tudo aquilo que eu via no outro.
É assim que funciona. De outra feita, lembro no ginásio, o Francisco Sachontene, conhecido popularmente como Ceguinho, estava lendo um livro do Morris West. Como falo sem pensar, atirei, em plena aula:
- Olha o Ceguinho, lendo A Filha do Silêncio! disse eu, em voz bem alta.
- Este é a Filha do Silêncio e tu é um filho da puta! respondeu o Ceguinho, quase aos gritos.
Foi então que caiu minha ficha. Eu queria fazer uma piada, não denunciá-lo. Mas o Ceguinho desnudou a verdadeira situação.
O bate-pronto tem essa qualidade, coloca tudo nos eixos. O autor da resposta rápida precisa estar coberto de razão, senão não dá certo. Já contei aqui aquela da Dona Rosinha, mas como é um clássico,vou repetir. A visita pergunta ao meu pai se faria tudo de novo na vida. Seu Ortiz se esmerou em detalhes, dizendo que jamais casaria nem teria aquela quantidade de filhos. A visita, então, que era um canalha, perguntou para minha mãe a mesma coisa.
- Ah, eu não, eu faria tudo o mesmo, me casaria com ele e teria todos esses filhos.
- Não sei porquê, retrucou meu pai.
- Faça como eu, Ortiz, disse ela. Minta.
Acho essa ótima. O casamento durou a vida inteira.
Quando você, por exemplo, cobrar algum pagamento numa empresa e eles responderem para esperar, que lá não é banco, diga:
- Claro que não é banco. O banco só tira. Aqui, pelo menos, tenho chance de ganhar alguma coisa.
Tem mais clássicos. Aquela do Romário, perguntado sobre uma crítica a ele, feita por Pelé:
- Pelé calado é um poeta.
Uma de Mempo Giardinelli, escritor argentino da região do Chaco, autor de Luna Caliente, entre outras preciosidades, repete essa da sua cidade, Resistência:
O cara sai para a rua esfregando os olhos.
- Estás com algum problema na vista? perguntam os conhecidos, preocupados.
- Se tenho. Hoje só enxergo filho da puta.
Por ser demais conhecida, nem vou levar em consideração a de Groucho Marx (foto), que ao ser convidado para entrar num clube disse que não entrava em clube onde ele era convidado. Mas merece sempre ser lembrada.
O bate-pronto pode destruir amizades, pois é irresistível quando se manifesta. Pode ser considerado criação de refinada cultura. A de Joe Mankiewicks (roteirista de Cidadão Kane), por exemplo, que ao vomitar no banquete, disse para as madames escandalizadas:
- Não se precoupem. O peixe veio junto com o vinho.
Existem escritores que atingiram o estado de arte no bate-pronto, como o Raymond Chandler, em que seu Phillip Marlowe apanha o tempo todo dos gângsters, mas nunca perde a chance de dizer uma boa frase.
Para encerrar, uma do José Onofre, que ele tirou de um filme de guerra. Estávamos num horrendo bar da Lapa de Baixo, em São Paulo, num dia pesado de fechamento da revista Senhor, que naquele dia não nos permitia perder tempo para comer. Aguardávamos um tenebroso prato feito. Quando chegou a gororoba, Onofre mandou bala:
- Já tinha pisado nisso. Comer, é a primeira vez.
Onofre é do ramo. Sua literatura contém grandes tiradas dos seus personagens.
- Mas como estás Mané, Caloca. Tu não era um fotógrafo?
- E tu, não era um escritor? respondeu Caloca.
Tentei sair da arapuca, mas tinha perdido a parada. De bermuda, chinelo de dedo e camiseta, eu era tudo aquilo que eu via no outro.
É assim que funciona. De outra feita, lembro no ginásio, o Francisco Sachontene, conhecido popularmente como Ceguinho, estava lendo um livro do Morris West. Como falo sem pensar, atirei, em plena aula:
- Olha o Ceguinho, lendo A Filha do Silêncio! disse eu, em voz bem alta.
- Este é a Filha do Silêncio e tu é um filho da puta! respondeu o Ceguinho, quase aos gritos.
Foi então que caiu minha ficha. Eu queria fazer uma piada, não denunciá-lo. Mas o Ceguinho desnudou a verdadeira situação.
O bate-pronto tem essa qualidade, coloca tudo nos eixos. O autor da resposta rápida precisa estar coberto de razão, senão não dá certo. Já contei aqui aquela da Dona Rosinha, mas como é um clássico,vou repetir. A visita pergunta ao meu pai se faria tudo de novo na vida. Seu Ortiz se esmerou em detalhes, dizendo que jamais casaria nem teria aquela quantidade de filhos. A visita, então, que era um canalha, perguntou para minha mãe a mesma coisa.
- Ah, eu não, eu faria tudo o mesmo, me casaria com ele e teria todos esses filhos.
- Não sei porquê, retrucou meu pai.
- Faça como eu, Ortiz, disse ela. Minta.
Acho essa ótima. O casamento durou a vida inteira.
Quando você, por exemplo, cobrar algum pagamento numa empresa e eles responderem para esperar, que lá não é banco, diga:
- Claro que não é banco. O banco só tira. Aqui, pelo menos, tenho chance de ganhar alguma coisa.
Tem mais clássicos. Aquela do Romário, perguntado sobre uma crítica a ele, feita por Pelé:
- Pelé calado é um poeta.
Uma de Mempo Giardinelli, escritor argentino da região do Chaco, autor de Luna Caliente, entre outras preciosidades, repete essa da sua cidade, Resistência:
O cara sai para a rua esfregando os olhos.
- Estás com algum problema na vista? perguntam os conhecidos, preocupados.
- Se tenho. Hoje só enxergo filho da puta.
Por ser demais conhecida, nem vou levar em consideração a de Groucho Marx (foto), que ao ser convidado para entrar num clube disse que não entrava em clube onde ele era convidado. Mas merece sempre ser lembrada.
O bate-pronto pode destruir amizades, pois é irresistível quando se manifesta. Pode ser considerado criação de refinada cultura. A de Joe Mankiewicks (roteirista de Cidadão Kane), por exemplo, que ao vomitar no banquete, disse para as madames escandalizadas:
- Não se precoupem. O peixe veio junto com o vinho.
Existem escritores que atingiram o estado de arte no bate-pronto, como o Raymond Chandler, em que seu Phillip Marlowe apanha o tempo todo dos gângsters, mas nunca perde a chance de dizer uma boa frase.
Para encerrar, uma do José Onofre, que ele tirou de um filme de guerra. Estávamos num horrendo bar da Lapa de Baixo, em São Paulo, num dia pesado de fechamento da revista Senhor, que naquele dia não nos permitia perder tempo para comer. Aguardávamos um tenebroso prato feito. Quando chegou a gororoba, Onofre mandou bala:
- Já tinha pisado nisso. Comer, é a primeira vez.
Onofre é do ramo. Sua literatura contém grandes tiradas dos seus personagens.
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