Todo filme é sobre cinema e todo cinema é sobre o país de origem. Filme francês é sobre a França, chinês sobre a China, americano sobre a América, brasileiro sobre o Brasil e assim por diante. Mesmo quando o filme tenta se situar fora da nacionalidade acaba se entregando. Toda ficção revela o mundo real que o gerou. Todo esforço internacionalista deságua na aldeia. Não vivemos num planeta, mas numa casa, apartamento, rua, cidade, estado país. O cinema reproduz essa contingência, mesmo os híbridos, co-produção entre nações. Nesses casos, o que chamam Europa, por exemplo, é o lar do cineasta ou o produtor que define a trama (o que sempre significa um país específico).
Vejo muita bobagem em dvd (faço tudo para escapar da TV aberta). Uma delas é essa Lenda do Tesouro Perdido, interpretado por Nickolas Cage, Ed Harris e Jon Voight. Grandes atores deveriam ser melhor aproveitados. Mas eles se submetem a uma propaganda deslavada da América. Do que trata o filme? Da apropriação mítica dos tesouros ancestrais dos habitantes do continente americano. Faz um link entre tesouro asteca e monte Rushmore, aquele em que foram esculpidas os rostos gigantescos dos Pais da Pátria, os presidentes americanos. Justifica a apropriação do território das Américas (as três) introduzindo o improvável (a história dos Estados Unidos) na cultura antiga.
O cinema americano não prega prego sem estopa, como se dizia em Uruguaiana. Tudo gira em torno da sobrevivência e o crescimento do Império. O cinema catástrofe funciona como advertência, para assustar a opinião pública sobre os grandes perigos que todos correm se o Império americano for destruído. Parece que o novo Indiana Jones (não vi ainda) tem uma história que acontece na selva amazônica, cheia de terroristas, claro. Já comentei aqui o deslocamento do foco, do Oriente Médio, para a América do Sul, no cinema dos gringos, a começar pelo Miami Vice. Agora José Padilha, de Tropa de Elite, vai filmar um herói policial americano em luta contra terroristas na Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu.
Já fui atacado pelos que adoram gritar “não te falei?”, como se a denúncia do premiado filme de Padilha fosse mesmo a reiteração do fascismo que agora, parece, ficaria explícito no seu novo filme. Padilha pode fazer o quiser. Se fizer merda, vou denunciar aqui. Mas quando fez Tropa de Elite, acertou na mosca: todos agora sabem como funciona a polícia brasileira. Ou pelo menos, essa é a primeira grande representação da corrupção policial no Brasil. Não é pouca coisa. O fascínio (já existente antes do filme) pelos torturadores tem a ver com as injustiças promovidas pela ditadura civil e não com Tropa de Elite, que apenas encara o problema de frente (onde a transgressão da lei está explícitamente apresentada como desvio de conduta e não como paradigma). Por ser o que é, foi premiado com o Urso de Ouro em Berlim por Costa-Gravas.
Uma coisa que me invoca é como são acertados os filmes que fazem propaganda explícita das instituições americanas. Kiefer Sutherland recebeu um extra do Serviço Secreto da Casa Branca para interpretar um guarda-costas? Clint Eastwood recebeu dinheiro direto do Pentágono para fazer o filme em que resgata um avião da Rússia? Os scripts são encomendados? Existe intervenção direta, ou tudo é acordado nas altas esferas, entre o FBI e Hollywod, entre o lobby dos advogados (como tem filme de tribunal, meu Deus!) e as grandes produtoras? E quando a coisa cai na mesa dos artistas, eles têm plena consciência de que estão a serviço de mil sacanagens, como fazer filmes favoráveis à CIA, por exemplo. Ou simplesmente acreditam nisso e dizem: Ok, let´s do it.
O cinema americano é cheio de frases e perguntas prontas. Antes era o recorrente “eu sei como você se sente”. Agora, podem notar, em cada filme existe pelo menos uma vez (são sempre mais) a pergunta : are you ok? O “go, go,go” continua em voga. São aboios para entusiasmar platéias imóveis em suas cadeiras. Serve para representar o movimento inexiste na sociedade. Tudo deve ficar como está, crescendo para pior. Assim é que eles gostam.
RETORNO - Parece que Lula quer uma moeda única para a América Latina, já batizada de “moerda” pelo Macaco Simão. Já temos moerda, é o real, que é um título ao portador do compromisso firmado com o sucateamento global do Brasil. 2. Imagem de hoje: Nickolas Cage com o falo americano ao fundo.
Vejo muita bobagem em dvd (faço tudo para escapar da TV aberta). Uma delas é essa Lenda do Tesouro Perdido, interpretado por Nickolas Cage, Ed Harris e Jon Voight. Grandes atores deveriam ser melhor aproveitados. Mas eles se submetem a uma propaganda deslavada da América. Do que trata o filme? Da apropriação mítica dos tesouros ancestrais dos habitantes do continente americano. Faz um link entre tesouro asteca e monte Rushmore, aquele em que foram esculpidas os rostos gigantescos dos Pais da Pátria, os presidentes americanos. Justifica a apropriação do território das Américas (as três) introduzindo o improvável (a história dos Estados Unidos) na cultura antiga.
O cinema americano não prega prego sem estopa, como se dizia em Uruguaiana. Tudo gira em torno da sobrevivência e o crescimento do Império. O cinema catástrofe funciona como advertência, para assustar a opinião pública sobre os grandes perigos que todos correm se o Império americano for destruído. Parece que o novo Indiana Jones (não vi ainda) tem uma história que acontece na selva amazônica, cheia de terroristas, claro. Já comentei aqui o deslocamento do foco, do Oriente Médio, para a América do Sul, no cinema dos gringos, a começar pelo Miami Vice. Agora José Padilha, de Tropa de Elite, vai filmar um herói policial americano em luta contra terroristas na Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu.
Já fui atacado pelos que adoram gritar “não te falei?”, como se a denúncia do premiado filme de Padilha fosse mesmo a reiteração do fascismo que agora, parece, ficaria explícito no seu novo filme. Padilha pode fazer o quiser. Se fizer merda, vou denunciar aqui. Mas quando fez Tropa de Elite, acertou na mosca: todos agora sabem como funciona a polícia brasileira. Ou pelo menos, essa é a primeira grande representação da corrupção policial no Brasil. Não é pouca coisa. O fascínio (já existente antes do filme) pelos torturadores tem a ver com as injustiças promovidas pela ditadura civil e não com Tropa de Elite, que apenas encara o problema de frente (onde a transgressão da lei está explícitamente apresentada como desvio de conduta e não como paradigma). Por ser o que é, foi premiado com o Urso de Ouro em Berlim por Costa-Gravas.
Uma coisa que me invoca é como são acertados os filmes que fazem propaganda explícita das instituições americanas. Kiefer Sutherland recebeu um extra do Serviço Secreto da Casa Branca para interpretar um guarda-costas? Clint Eastwood recebeu dinheiro direto do Pentágono para fazer o filme em que resgata um avião da Rússia? Os scripts são encomendados? Existe intervenção direta, ou tudo é acordado nas altas esferas, entre o FBI e Hollywod, entre o lobby dos advogados (como tem filme de tribunal, meu Deus!) e as grandes produtoras? E quando a coisa cai na mesa dos artistas, eles têm plena consciência de que estão a serviço de mil sacanagens, como fazer filmes favoráveis à CIA, por exemplo. Ou simplesmente acreditam nisso e dizem: Ok, let´s do it.
O cinema americano é cheio de frases e perguntas prontas. Antes era o recorrente “eu sei como você se sente”. Agora, podem notar, em cada filme existe pelo menos uma vez (são sempre mais) a pergunta : are you ok? O “go, go,go” continua em voga. São aboios para entusiasmar platéias imóveis em suas cadeiras. Serve para representar o movimento inexiste na sociedade. Tudo deve ficar como está, crescendo para pior. Assim é que eles gostam.
RETORNO - Parece que Lula quer uma moeda única para a América Latina, já batizada de “moerda” pelo Macaco Simão. Já temos moerda, é o real, que é um título ao portador do compromisso firmado com o sucateamento global do Brasil. 2. Imagem de hoje: Nickolas Cage com o falo americano ao fundo.
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