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21 de maio de 2007
A LEITURA AJUDA A COMBATER AS IMPOSIÇÕES CORPORATIVAS
Transcrevo a seguir a entrevista que foi ao ar no sábado, dia 19, na TVBV, no programa Educação e Cidadania, da jornalista e escritora Maria Odete Olsen. Agradeço a Maria Odete, que ajuda assim a divulgar meu trabalho e a colocar na roda questões importantes sobre livros e autores.
"O escritor Nei Duclós é jornalista desde 1970, trabalhou na Folha de São Paulo e nas revistas Isto É e Senhor. Publicou textos sobre literatura em alguns dos principais veículos de comunicação do País, a partir de 1976, quando estreou como resenhista de livros da Veja. É formado em história pela USP (1998), trabalha atualmente na Editora Empreendedor, e é cronista do Diário Catarinense e do Portal Comunique-se. Nei Duclós foi entrevistado no Programa Educação e Cidadania pela jornalista Maria Odete Olsen.
Maria Odete- A leitura Nei, está tão abandonada assim?
Nei Duclós- Não, não está. Ela está um pouco fora de mão em alguns aspectos, principalmente no Brasil.
Maria Odete - Por que?
Nei Duclós– Existem muitos equívocos na formação do leitor. Existe um sistema impositivo de leitura que acaba afastando o leitor precoce.
Maria Odete – Então vamos por partes. Num primeiro momento, você acredita que as questões sociais brasileiras interferem nessa área. Ou seja, entre comprar um litro de leite ou um livro, a primeira opção é a que se torna necessária?
Nei Duclós – Sim, existe uma massa de leitores muito pequena em relação a população que temos, devido aos problemas sociais.
Maria Odete – E nessa questão da imposição, vejo muita reclamação de jovens em relação aos livros impostos na lista para o vestibular.
Nei Duclós – Essa lista é importante, mas o espectro devia ser mais aberto, deveriam ter mais opções de leitura, para que o estudante seja um agente e possa escolher também, porque senão ele fica muito passivo e se rebela.
Maria Odete – Como é que se cria o hábito da leitura, já que observo muitos pais se debatendo com o “drama” de querer que o livro leia mais e ele na verdade só quer ficar no play station.
Nei Duclós – O hábito da leitura acontece na alfabetização, uma alfabetização sólida. Ela tem que ser muito bem fundada, fundamentada. Eu tive sorte, a minha geração, participou de uma formação sólida de leitura.
Maria Odete – Você acredita que filhos que não leiam vêm de pais e professores que não lêem?
Nei Duclós – Existe as vezes um ambiente social bastante avesso a leitura. A biblioteca familiar é fundamental, mas não é definitiva. As vezes não existe uma biblioteca em casa e se formam leitores. Isso não é uma lei.
Maria Odete – Bem, o entrevistado de hoje no Educação e Cidadania, além de jornalista, é um escritor com 5 livros publicados: O Refúgio do Príncipe, 2006/Universo Baldio, Francis, 2004/ No Mar. Veremos, Globo, 2001/No Meio da Rua, L&PM, 1980 e Outubro, IEL-RS –A Nação 1975. Diz aí Nei do que falam estas histórias?
Nei Duclós – Eu sempre exploro dos ambientes muito caros pra mim, um da ilha de Santa Catarina e outro do pampa onde nasci.
Maria Odete – Você nasceu no Rio Grande do Sul...
Nei Duclós – Nasci em Uruguaiana.
Maria Odete – Também do Nei temos “No Mar Veremos”, “Outubro” e “No Meio da Rua” que são livros de poesia.
Nei Duclós – Exato, são livros de poesia. “Outubro” de 1975 é o meu livro de estréia, depois lancei pela LPM com apresentação do Mário Quintana, “No Meio da Rua” e “No Mar Veremos” em 2001. São todos livros de poesia. Depois lancei o romance “Universo Baldio”.
Maria Odete – Quais são os livros que vendem? Hoje para um livro vender, tem de vir ancorada nessa grande máquina de marketing como os Harry Potter da vida e todas estas gigantescas histórias ficcionais?
Nei Duclós – Existem livros de qualidade que vendem, mas nem todo livro que vende tem qualidade. Mas há também a questão da imposição...novamente a palavra.
Maria Odete – Vamos então falar um pouco mais sobre essa questão da imposição.
Nei Duclós – São imposições de linguagem. Nós somos cercados por imposições de linguagem. Nós somos cercados pela imposição da linguagem corporativa, da linguagem política, as vezes da linguagem religiosa...então a leitura o que faz. A leitura ceva, cultiva a liberdade de espírito, quer dizer, você no fim consegue formatar uma linguagem cultural, na maneira como você se expressa, no momento que interage com autores de qualidade.
Maria Odete – E a leitura pode nos levar a outros universos. Você afirmou isso quando o convidei para esta entrevista...
Nei Duclós – Ela te leva para outros planos, mas principalmente você pode interagir positivamente com estas linguagens impositivas e isso é fundamental. Você não fica a reboque da linguagem publicitária e nem da linguagem política. Você consegue entender. Você consegue ler o mundo melhor. Você consegue ler a paisagem urbana e a natural, você consegue entender melhor e você consegue ser um cidadão mais completo no momento que você tem esse hábito de leitura como permanente, fundado numa alfabetização sólida e numa curiosidade e na vontade de aprender e saber coisas.
Maria Odete – Para saber mais do Nei Duclós você pode entrar no blog Outubro ou no site www.consciencia.org/neiduclos . Nei, muito obrigada pela entrevista.
Nei Duclos – Obrigado a você."
RETORNO - 1. Imagem de hoje: Renoir. 2. O enfoque que escolhi sobre imposições de linguagem é um desdobramento da grande sacada de Julio Monteiro Martins, professor de narrativa e editor da genial revista cultural Sagarana (link ao lado). Julio é o mais importante escritor brasileiro em atividade no Exterior. Já transcrevi aqui a entrevista em que ele fala da importância da literatura na luta contra linguagens impositivas.
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