12 de abril de 2007

O CÍRCULO DE FERRO DO FODISMO




Não há perigo de melhorar, como diria o sambista. Uma passeada pelo noticiário nos deixa de cabelo em pé. Deputados vão aumentar suas verbas, Aloysio Nunes diz que não irá contra a CPI da Caixa (verbas publicitárias, o de sempre) porque sua turma não tem nada com isso. Se tivesse, colocaria obstáculos? Parece que a coisa vai feder para o lado do Serra. Durma-se com um noticiário desses. Madonna vai inaugurar sua fase mais popozuda, Alexandre Frota escolhe a mesa de chocolate mais saborosa, Clodovil inaugura programa chamado Por Excelência. Não há limites para o deboche.

Há escândalo porque um bordel na Inglaterra vai se chamar Brasília. Teme-se que haja a partir disso (parece que o pulguedo é um sucesso, cada prostituta atende 27 caras por noite) um rede de puteiros com o nome da nossa capital. Nós é que formatamos essa imagem, nós elegemos Brasília como a capital da prostituição de um país que é o rabo do mundo. Os estrangeiros apenas copiam o que é formatado aqui dentro. Brasília deveria deixar de ser capital. Não deu certo, nunca dará. Deveria ser tombada e transformada em cidade universitária e de pesquisa acadêmica e tecnológica. Uma cidade voltada para a inovação. E a capital voltaria a ser o Rio de Janeiro, que nunca deixou de ser o coração do Brasil.

O PAC nem foi aprovado no Congresso e já tem uma campanha milionária nas redes de televisão. O Brasil tem coisas que ninguém mexe: o caixa 2, a remessa de lucros para o Exterior, o mau uso da terra para o latifúndio e o monopólio, o intenso tráfico de influência e de drogas e armas pesadas, o massacre no trânsito, a podridão dos cárceres e a mídia a serviço de tudo o que não presta. A revolta vira mais um insumo para a ditadura, pois o povo clama por pena de morte, e sabemos no que vai dar: poderão continuar fuzilando mais ainda, agora a olhos vistos. Enquanto isso, parece que a popularidade do Lula está crescendo. Numa transformação profunda, as primeiras prisões deveriam ser as dos donos das pesquisas de opinião. Esse é o negócio mais rentável do mundo. O que mais escuto é: votou nele? Agora agüenta.

Há anos não voto em ninguém. Voto em trânsito. Já votei em todo mundo, menos na direita explícita, apenas na direita que se revelou depois (como o Lula). Assim mesmo, no segundo turno. No primeiro, meu voto sempre foi trabalhista. Agora o presidente do PDT virou ministro do Trabalho. Quer reforçar a CLT enquanto os outros ministros querem miná-la. Não é sério. Uma coisa não está em oposição a outra. Você pode fazer cumprir as leis trabalhistas e desengessar as empresas. O problema é que obrigam a empresa a arcar com custos altíssimos do emprego e a solução encontrada é fazer todo mundo de escravo.

Um trabalhador bem remunerado faz a economia andar, como ensina o fordismo clássico. Mas aqui o objetivo é matar todo mundo de fome. Aqui não temos fordismo, temos fodismo. Eles fodem mesmo.

A ferramenta usada é fechar cada vez mais o círculo de ferro. Ligue a TV: lá está a sacanagem de mãos dadas com a idiotia, ocupando todo o espaço disponível. Vote e veja seu deputado deputando em Brasília, agora nome de bordel no estrangeiro. Pegue o ônibus e verás as pessoas se destruindo por um lugar. Saia de carro e fique parado na falta de estradas e ruas decentes. Mas em compensação, nos avisa o noticiário noturno, os juros dos carros usados caíram, aproveite! Você aí ô da poltrona: quanto você tem no bolso? Se sobrou algum, passe para cá.


RETORNO - 1. Imagem de hoje: o trabalhador fordista, o que tinha condições de comprar o carro que fabricava, segundo a concepção clássica de Henry Ford. 2. Claro que o trocadilho já tinha sido usado. Mas a gente sempre se acha original, até fazermos uma checagem no Google.

Nenhum comentário:

Postar um comentário