28 de fevereiro de 2007

NOTÍCIAS DO ESFORÇO MADURO





Clint Eastwood é a América que procura amadurecer por meio da inclusão. Todos seus filmes são sobre a necessidade de colocar nas fronteiras mentais da nação um imaginário de extrema diversidade. A mulher hispânica que era a parceira do durão Calagham, o outsider que volta do exílio para defender as prostitutas em Os Imperdoáveis, o negro injustamente condenado à morte, os migrantes, os renegados, tudo faz parte, em Clint, da mesma panela fervente de um país que invade o mundo e é por ele invadido. Em Iwo Jima, que ainda não assisti, a Segunda Guerra vista do ponto dos japoneses faz parte, pelo que noto das sinopses, desse esforço de amadurecimento de uma percepção exausta da mesmice. Verei. Clint, um cineasta da linhagem de John Ford e Nicholas Ray, merece mais um post especial.

Quando a ditadura acabou com o ginásio, eliminou o importante rito de passagem da adolescência, que saía do Primário e entrava num novo mundo com responsabilidades. Aos 11 anos, estudávamos Latim, Francês, Inglês. Ao misturar Ginásio e Primário, a ditadura estendeu a irresponsabilidade da infância até o limite. Não há uma diferenciação entre o estudante que aprende as primeiras letras e o que parte para o conhecimento de outras culturas. Ok, pode-se dizer que há diferença entre o Fundamental e o Médio, mas não é a mesma coisa. No fundo, o aluno fica no mesmo trilho desde que nasce para os estudos até chegar à idade adulta. Pesquisa recente ligou a falta de ginásio, ou melhor, do ensino Médio, com a criminalidade. Faz sentido.

Manifestações variadas na Internet revelam a maturidade do esforço de vários autores, que procuram aprofundar sua participação na expressão individual e cultural na grande rede. Há inúmeros exemplos, mas vou citar a partir de hoje os mais próximos. Destaco agora o jornalista globe trotter Clovis Heberle, amigo de longa data, está resgatando a grande viagem de sua vida, na juventude, nos anos 60, para a Bolivia. O endereço é este. Por muito tempo, Clovis contou histórias desse rito de passagem para o amadurecimento e agora nos brinda com crônicas primorosas sobre aquele universo que partiu o mundo em dois, antes e depois da decisão de cair na estrada. Acompanhe os garotos e garotas que dentro de um ônibus ensaiavam uma banda e encontravam o mundo perdido desta América tão próxima e distante.

Como a babaquice tomou conta da mídia, fica difícil diferenciar um trabalho jornalístico feito com leveza e alegria com os outros, que apostam na superficialidade e na distorção. Mas não devemos perder o Ânimo. Destravar a linguagem da mídia fazendo com que os repórteres intervenham na tessitura na narrativa e se livrem dos jargões corporativos e de variados interesses, não significa que devemos cair na falsa seriedade, na tristeza de uma carga que não nos pertence. Não devemos deixar para a direita a joie de vivre, como dizem os franceses. Eles fazem tudo para nos desestimular. Procuram pêlo em ovo, contestam cada sílaba, mas devemos ficar firmes. É nossa missão conquistar a leitura por meio do talento e da verdadeira seriedade, a que não dispensa o humor e a graça.

Não existe redação mais alegre do que a dedicada à originalidade, à radicalidade da abordagem a favor da ética, à criatividade legítima. Redações que ficam se fresqueando com besteiras inomináveis são carregadas de más vibrações. E costumam levar seus veículos ao tédio e à falência. Se há uma maneira de sobreviver nesta época de extremas mudanças, em que o jornalismo impresso está sob intensa pressão, é essa de acertar a mão com a equipe integrada, diversa, trabalhando com liberdade. Amadurecer não significa perder os laços com a formação e a infância. É dar um salto a partir do que temos. Gostei do Joel Santana que chegou no Fluminense dizendo que não ia virar a mesa e sim se incorporar ao espírito da equipe para acertar o rumo. Virar a mesa só serve para sucatear redações e deixar toda a grana para as consultorias e o marketing mal intencionado.

RETORNO - Imagem de hoje: Ken Watanabe, no papel do General Tadamichi Kuribayashi, em Cartas de Iwo Jima. O que acontecia do lado de lá? É hora de saber.

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