9 de março de 2006

O TEMPO É A PÁTRIA DO MIGRANTE




Julio Monteiro Martins, o mais importante escritor brasileiro em atividade no Exterior, abre o verbo: Tudo está por ser escrito. Temos poucos escritores diante da velocidade e profundidade das mudanças. O escritor contemporâneo está em busca desesperada de uma nova forma de romance. A literatura é o único discurso com força suficiente para enfrentar a manipulação feita pela publicidade e pelos governos. Temos hoje a distorção histórica dos fatos, mesmo os recentes, que são apresentados como eventos não ligados à cultura, à política, e à ideologia, como é o caso da invasão da Manchúria feita pelos japoneses e que estava sendo ensinada para os estudantes como se fosse uma expedição científica de pesquisa e não uma invasão militar (manipulação presenciada pelo próprio Julio quando morou no Japão). A pátria do migrante é o tempo em que vive, é a sua época. O migrante morre quando perde seu país e sua identidade, e vai renascer em outro lugar. Julio diz que no Brasil ele é tratado como um escritor do passado (o que acontece com várias pessoas da nossa geração). Sou um escritor planetário, diz, nessa entrevista importantíssima dado ao médico pediatra e também escritor Franco Foschi para a Associazione Scrittori Bologna

REVOLUÇÃO - Toda a maravilhosa conversa de Julio está no endereço http://www.arcoiris.tv/. Optei pelo formato MP3, que carrega rápido. O que preocupa Julio, que fala um italiano limpo e totalmente compreensível para seus conterrâneos (graças ao domínio que conquistou dessa língua que ele reforça ser muito amada em todo o mundo), é que o neoconservadorismo, inaugurado por Tatcher e Reagan, já vai para a terceira geração. O Pensamento revolucionário está morrendo junto com as pessoas que se formaram fora da hegemonia da nova direita, diz Julio. Os destaques da entrevista são a sua contundente análise sobre o que vivemos hoje e a importância de nunca mais termos censura. O motivo da entrevista é o lançamento do seu terceiro livro escrito em italiano, Madrelingua, que é um trabalho de experimentação literária, escrito em pleno estado patrimonialista (segundo sua definição) do governo Berlusconi. Madrelingua é a hipótese de um novo romance que possa espelhar o homem contemporâneo , diz. Ou seja, é uma das suas inúmeras contribuiições, pois como assinalou na entrevista, na sua estréia como escritor no Brasil lançou Bárbara, que é um conjunto de contos breves que formam um romance. O mesmo personagem costura as narrativas, com a diferença de que em cada uma delas está numa idade diferente. Essa é uma das suas inúmeras experiências, neste oficio que lhe toma todas as horas do dia.

LAVAGEM - Vivemos hoje um processo sofisticado hegemônico de lavagem cerebral, diz Julio. Contra o sistema imposto, a literatura oferece a ambigüidade, a manifestação humana livre e utópica. É preciso resgatar e aprofundar a utopia para encontrarmos uma saída para esse impasse. A literatura está no coração da resistência ao sistema. Hoje não é mais possível fazer um jornalismo alternativo( acrescento: já que a ditadura financeira internacional tomou conta da mídia, como já alertam os estudiosos). Dizer a verdade é o canal. Por isso o escritor é uma reserva ética da humanidade e seu oficio deve ser estimulado e preservado. A literatura é a consciência, e está a serviço de uma visão não pasteurizada da realidade. Trata-se de uma missão não imposta, nascida da próprio senso de humanidade do escritor . Por sua extraordinária liberdade, a literatura é um ato perigoso. O maior risco do escritor é o da autocensura. É emocionante ouvir Julio falar da sua Sagarana, a melhor revista cultural on line do mundo, consideradissima na itália. São mil e cem acessos únicos por dia, diz Julio e 48% são da Itália, os outros são de outros países.

PERFIS - A seguir, reproduzo os perfis do entrevistado e do entrevistador. No original, numa homenagem à língua de Dante.

Julio Monteiro Martins è nato a Niteròi in Brasile. Ha insegnato scrittura creativa in alcune prestigiose università americane del nord e del sud. In Brasile ha pubblicato nove libri, tra romanzi e saggi. Avvocato, ha difeso i meninhos de rua nei processi che li riguardavano. E' uno dei fondatori del Partito Verde ambientalista brasiliano. Da anni vive in Italia, dove insegna all'Università di Pisa Lingua Portoghese e Traduzione letteraria. In italia ha già pubblicato tre libri di narrativa. Di assoluto interesse la sua splendida rivista on line SAGARANA (www.sagarana.net). In questa lunga e brillantissima intervista si parla di letteratura, ma anche di politica, di globalità e migrazione, e di straordinaria fiducia nel futuro dell'umanità, nonché dell'incessante bisogno di 'resistenza'. A partire dal suo ultimo romanzo, "madrelingua", uscito per l'editore Besa"

Franco Foschi, pediatra e scrittore, dopo l'esordio con una sceneggiatura radiofonica e racconti su varie riviste, ha pubblicato tre romanzi, Niente è come appare (Hobby&Work, 1998, ristampa 2004), Maria e le pistole limate (EL, 2000) e Un inverno dispari (a quattro mani con Guido Leotta, Mobydick, 2003), due raccolte di racconti, Beltenebros e altre amene crudeltà (Mobydick, 1998, premio Città di Bologna) e Piccole morti senza importanza (Todaro, 2003), più un paio di libri decisamente atipici, Il re dei ragni (Mobydick, 2000, con prefazione di Stefano Benni) e H (Mobydick, 2002).

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