16 de março de 2006

NÃO ENCABRESTE SEU VOTO





Não vote útil, não coloque seu voto no cabresto. Não caia nessa armadilha na hora de votar: voto neste para aquele não vencer. Não vote contra a sua consciência, vote de acordo com ela. Não vote novamente no mesmo candidato porque ele emocionou você na campanha anterior - veja o que o sujeito fez com seu voto. É por contar com o voto útil que eles repetem as mesmas fórmulas. São sempre os mesmos, com modificações de superfície. Será a quinta campanha do Lula, será o Lula versus o anti-Lula. Será o que se entende por povo contra o que se entende por elite. Lula levou décadas absorvendo o papel de bicho papão da esquerda, e assim promoveu os vitoriosos da direita, como Collor e FHC. Depois assumiu e foi apenas continuísmo. Era apenas um jogo de cartas marcadas. Não entre nessa.

As campanhas serão as mesmas: câmara lenta, musiquinha, acusações, baixarias e lugares comuns. Eles contam com o voto útil. Manobram com as urnas por meio de pesquisas suspeitas. Não dão chance para a escolha. Os candidatos fazem parte do esquadro geral da ditadura, que não dá vez às forças vivas da nação. Não pense que digo isso porque não entendo de política. Quem não entende de política é quem me chama. Então, votar em quem? Já falei, vote de acordo com sua consciência. Não pense que viramos estrategistas na hora do voto. A única estratégia é a verdade. Não tens candidato? Vote nulo. Teu candidato está na rabeira das pesquisas? Vote nele. Se não for para o segundo turno, anule no segundo turno. Diga não ao jugo, à canga, ao marketing, à idéia pronta.

PERDAS - Votei de cabresto no segundo turno até a última eleição, quando ajudei a eleger um traidor. Ajudei a eleger Quércia e Fleury, temendo Maluf. Queria votar em Bautista Vidal, o candidato de Gilberto Vasconcellos. Parece que a disputa no PDT está entre Jefferson Peres e Cristóvão Buarque. Prefiro Peres. Buarque é paraquedista, foi sempre do PT. Acha que nosso grande problema é educação. Não é. É a canga à dívida externa impagável.

Quanto custou a reeleição de FHC? Cinqüenta bilhões de dólares, segundo o repórter do The Guardian, Greg Palast. Depois Brizola falava em perdas internacionais e todo mundo ria. Esse Brizola, ora já se viu, perdas internacionais, diziam, enquanto baixavam as calças para os gringos. Cartacapital deu onze páginas com Greg Palast. Repercussão: zero. Ora, ora, perdas internacionais, que caduquice. Palast é considerado o maior repórter investigativo do mundo. Meses depois que saiu a matéria sobre ela na revista de Mino Carta, a Veja deu outra matéria, sobre outro melhor repórter do mundo. Eles são assim. Eles ocupam todos os espaços e fazem tua cabeça. E você embarca, você acredita, você acha mesmo que não perdemos nada para o capitalismo financeiro internacional. Eles apenas estão por aqui pelas chicas, claro. Nossa política externa é oferecer mulher para todos os povos. Mick Jaegger, faça um filho nas gurias!

CIA - Quando Brizola descobria alguma falcatrua ao seu redor, intervinha imediatamente. Agnaldo Timóteo, fora, Garotinho, fora, José Brizola, o próprio filho (que bandeou-se para o PT) fora. Segundo Jefferson Barros, no seu livro sobre a UH gaúcha, a CIA ofereceu um milhão de dólares para comprar as fichas do Dops gaúcho (era pré-64). Brizola denunciou e mandou queimar tudo. O governador seguinte, Ildo Meneghetti, refez as fichas e completou a venda. Um milhão de dólares no início dos anos 60: assim se comporta um estadista. E confronta pessoalmente a roubalheira, não se esconde no biombo de quem não tem nada com isso.

RETORNO - Da entrevista de Urariano Mota no Musibrasil (reproduzida no La Insígnia, em português): " O que se vê comentado em resenhas de revistas brasileiras muito longe está da criação do Brasil. Os críticos fazem uma linha de transmissão da indústria editorial. E disto falo com a viva experiência. Quando Os Corações Futuristas foi publicado, enviei-o para os comentaristas do Rio e São Paulo. E um deles, de uma poderosa revista, me disse: O teu livro é bem escrito, mas ... Mas o quê?! Por Deus, o que se pede a um livro, em primeiro lugar, a não ser que venha bem escrito?

Não há, na grande imprensa, um sujeito de fibra que se diga: Vamos ler isto, sem olhar pro selo editorial. Os prêmios literários, por sua vez, se tornaram uma briga de editoras. O resultado disso não é bom, e nada de bom vem daí. Quem quiser saber o novo do Brasil, há de alcançá-lo por meios marginais, pela web, por exemplo, porque a criação está fora do circuito. Por outro lado, há uma nova linha, meio bárbara, que por meios bárbaros, imediatos, quer expressar a barbárie da vida brasileira. E isto não é bem literatura. É depoimento gravado, roteiro de reportagem policial, flashes indiscretos de casas de massagens. O lugar insubstituível da literatura, como o lugar da reflexão sobre o destino humano, está fora do circuito."

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