10 de maio de 2005

O PATROCÍNIO DA BAIXARIA




A Caixa Econômica Federal, de gloriosa biografia (quando foi fundado, nosso time de futebol na infância abriu uma caderneta na Caixa; o time existe até hoje) serve para patrocinar a seguinte cena, exibida ontem em horário nobre na Tela Quente, da Globo: por longos minutos (sei porque zapeei e voltei várias vezes, para ver se o filme daria uma trégua) uma jovem americana coloca gigantesco vibrador no meio das pernas (depois de exibi-lo em ação em close) e goza em frente à televisão dando gritinhos. Para isso serve o dinheiro público. Enquanto isso, o clássico O homem que matou o facínora, de John Ford, exibido na madrugada de segunda-feira na Band, não foi difundido por todo o Brasil, pelo menos aqui em Floripa, que decidiu-se por um programa local. Gostaria que as TVs regionais colocassem seus programas nos melhores horários e não na madruga ou muito de manhã. Mas o que quero dizer é que a TV aberta, para a maioria dos brasileiros, é a única opção. Duvido que os responsáveis pela Caixa saibam o que fazem com o patrocínio outorgado. Isso é coisa interna, da própria rede, que achar ser eficiente promover a baixaria para ganhar no Ibope.

MALVADOS - Quais eram os temas ontem na TV aberta, além do vibrador, seguido de cenas explícitas de putaria de adolescentes universitárias? Garotas exibindo-se sensualmente em frente aos espelhos ou na pista de dança (novela América), mulheres jovens falando de sua vida sexual (um dos assuntos da Hebe), além de debates candentes sobre a fé infantil em discos voadores ou na Nossa Senhora (que por longo tempo ficou a cargo da Elba Ramalho e do Gilberto Barros). Nenhum debate sério, nada que provoque reflexão responsável, nenhuma nesga de inteligência. Estamos formando uma nação de idiotas, como já notou a excelente tirinha Os Malvados (dica de daniduc), obra de um criador desconhecido (e escritor de primeiro time)chamado André Dahmer. Ao mesmo tempo, a Record exibia boa reportagem sobre prostituição feminina das brasileiras aqui e no Exterior. O motivo é um só: falta de dinheiro, desespero por não ter como sobreviver. Nos Estados Unidos, brasileiras são consideradas as novas francesas (estas, colocadas sempre como putas por Hollywood, pelo menos até os anos 60), e vendidas como as mais sexies do mundo. Produzimos fêmeas para o usufruto internacional. Enquanto isso, famílias destroçadas por essa situação exibem as fotos das filhas que criaram, aos prantos. É de partir o coração. Famílias não ganham destaque devido no noticiário, a não ser como vítimas ou consumidoras. O destaque é sempre a moça desencaminhada pelo sistema econômico da pirataria internacional (sem esse enfoque, claro). A fuga em massa para os Estados Unidos, como prova recente reportagem da Folha, é incentivada atualmente pela novela América (ontem, a grana do trabalho como dançarina à noite e escrava doméstica de dia da personagem Sol chegava de maneira salvadora para a mãe comprar o remédio do marido). Lembra a fuga em massa da Alemanha Oriental para a Ocidental. O Brasil implodiu e Palocci, na maior cara de pau, diz que o arrocho deve durar mais dez anos. Não vai. Vem aí uma tempestade de merda, como previu um dia Norman Mailer.

INCENTIVO - O estímulo à putaria vem por todo o canto. Colunistas exibem mulheres seminuas e perguntam quem vai querer. Jovens atrizes interpretam mulheres que vendem-se para homens mais velhos. Piadas explícitas enfocam assuntos onde os países baixos merecem toda a atenção. O moralismo foi deixado a cargo da direita, o que é um desastre político. Artigo primoroso de Sarah Blustain (A paródia do segundo sexo), publicado no Mais! de domingo na Folha, denuncia que a brutal adaptação das mulheres ao mundo masculino do trabalho é defendido pelas ditas progressistas, enquanto a humanização do espaço profissional respeitando as diferenças está hoje à mercê das conservadoras. Há um equívoco gigantesco sobre o que é vanguarda hoje. Estar na linha de frente da libertação não é entregar-ser a lugares comuns cristalizados, tenham ou não a aparência de progressistas. É preciso pensar e agir dialeticamente e não deixar que os avanços no comportamento, na política e na cultura fiquem na mão dos piores espécimes, que tudo fazem para desmoralizar a liberdade. No fundo, querem o horror de volta. Mas nele estamos imersos, porque não sabemos lutar direito.

RETORNO - 1. O sr. Secretário de Cultura e Esportes de Uruguaiana e melhor ator do Brasil, Miguel Ramos, deixa a seguinte mensagem no Livro de Visitas do meu site: "Nos idos de 68 lá no apt da 24 chegastes da rua com o seguinte slogan: meu lema para este ano é "lucidez e beleza". Leio todos dias o Diario da Fonte. Única leitura. A tua lucidez interpreta o mundo pra mim. Obrigado. Do seu amigo Miguel Ramos". 2. O Google informa: a Caixa foi fundada em 12 de janeiro de 1861, no Rio de Janeiro, pelo imperador D. Pedro II. Tinha como missão conceder empréstimos e incentivar a poupança popular. Com a extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH), em 1986, a empresa transformou-se na maior agência de desenvolvimento social da América Latina, administrando o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e tornando-se o órgão-chave na execução das políticas de desenvolvimento urbano, habitação e saneamento.3. O time de futebol que fundamos e existe há mais de 40 anos é o Guarani, de Uruguaiana.

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