6 de maio de 2005

KIRCHNER ESTÁ CERTO




Não é o Brasil que está invadindo a Argentina com produtos industriais, são as multinacionais, entre elas a poderosa Brasmotor, monopolista da linha branca, que está tomando conta da capacidade de consumo do país vizinho. São empresas subsidiadas pelo dinheiro de sucessivos governos ditadoriais, como a Camargo Correa, que está comprando empresas de lá. É a Petrobras, sem acento no as, multinacional e ex-estatal brasileira (expropriação de um patrimônio criado a partir de intensa campanha popular no governo Vargas eleito pelo povo), que está concentrando poder econômico em território platino. O Brasil é ponta de lança da pirataria internacional e do FMI. Deixou a Argentina na mão, aproveitando a brecha aberta pela falência do país vizinho, que tenta levantar-se, eles sim, com as próprias pernas. O Brasil também foi saqueado, como prova Greg Palast em A Melhor Democracia que o Dinheiro Pode Comprar (lançado pela W111 de Wagner Carelli, que acaba de sair da editora, rebatizada agora com o nome do selo Francis). Aconteceu na época da reeleição de FHC, em que o real foi segurado artificialmente até que o bobalhão continuasse no poder. Em troca, esfumaram-se 50 bilhões de dólares de nossas reservas. O buraco foi preenchido, oh surpresa, por novo e polpudo empréstimo do FMI, que nossos tataranetos irão ainda arcar (se ainda houver Brasil no futuro). Sob o juramento de que continuaria mantendo essa situação de desastre, o PT assumiu o poder engambelando o povo e intensificando o processo de entrega do país. Com isso, o Brasil tornou-se o que é hoje: o agente laranja do Império americano, para onde brasileiros em massa procuram fugir. Infierno por infierno, prefiro el da fronteira, como disse Martin Fierro.

LUTA - Os leitores do DF sabem a implicância que tenho com os argentinos, portanto posso garantir a isenção da minha análise. Kirchner é fruto de algo que não existe no Brasil: opinião pública legitima, por meio de mobilização popular e luta na rua. Se ele não se comportar direito, vai para a rua. No Equador viu-se algo parecido: o Lula de lá, o tal coronel Gutierrez, traiu as promessas de campanha e saiu abaixo de sacos de lixo. Salvou-se porque o Brasil interferiu (usando as Forças Armadas), a mando dos americanos. Lula disse que está pensando muito no povo, no salário mínimo maior, mas que não pode fazer tudo de uma hora para outra. De uma penada, em 1943, como lembraram reportagens recentes, Getulio Vargas criou toda a legislação trabalhista. Em 1945, quando foi deposto por um golpe militar, deixou a dívida externa zerada. O governo petista faz o contrário: destrói os direitos trabalhistas viabilizando o subemprego e o desemprego em massa, sucateia o parque industrial do país (que está em queda livre, segundo o noticiário das bancas) e, de quebra, tenta acabar com o que resta da indústria Argentina. Os argentinos, apesar de serem o que são, uns pentelhos inomináveis, precisam ser respeitados como nação. Não porque são nossos vizinhos ou porque devemos temê-los, mas exatamente porque somos maiores, temos mais mercado e PIB maior (que não serve para nada, pois o dinheiro fica concentrado na mão de meia dúzia, como não cansa de provar o IBGE). Esse é o espírito da verdadeira democracia: a força de quem é menor, e não a prepotência de quem tem mais, como acontece no Brasil. O que existe de suportável aqui são alguns nichos (que já estão sendo detonados, segundo vemos nos assaltos de quadrilhas cada vez maiores e rebeliões diárias no sistema carcerário) em que se refugiam os verdadeiros comodistas da democracia fajuta que nos governa.

GRANA - Investimento estrangeiro é papo furado: o que existe é dinheiro especulativo. Quando há investimento em parque produtivo, é para arrancar muitíssimo mais do que se coloca. E o que é pior: contratam até funileiros importados, como aconteceu com as empresas espanhola e portuguesa de comunicações. Simpatizo com Kirchner, que diz coisas ótimas como o Brasil tentou fazer até o Papa. Sua revolta contra nós não tem nada a ver com a birra tradicional argentina (isso fica para os gramados e preparem-se jogadores brasileiros que vão levar o troco na próxima vez que forem cumprir tabela em Buenos Aires). Tem a ver com política externa voltada para a soberania das nações. Não se deixa um vizinho como a Argentina na mão enquanto fazemos pose de líderes da América Latina. Não somos líderes coisa nenhuma. Somos uns grandalhões ridículos, com um governo de araque, imersos na pobreza, na miséria e na violência.

RETORNO - Não canso de repetir: as marchas sobre a capital são de inspiração fascista, baseadas na célebre marcha sobre Roma liderada por Mussolini em 1924 e que desaguou na ditadura italiana, um dos pilares da Segunda Guerra Mundial. Marchar sobre Brasília sendo subsidiado pelo dinheiro público, como faz o MST, em que pese as aspirações legítimas do povo por terra, faz parte de um movimento qure tornou-se perverso por falta de governo. O MST está virando uma autarquia como o Incra. A solução seria simplesment fazer a reforma agrária, arrancando dos grileiros taradões as terras públicas roubadas por meio da corrupção cartorial, e distribuindo-as aos agricultores. Mas isso seria contrariar os desmandos dos grotões, no qual o voto lascivo se impõe para manter o sistema de ditadorial de pé. No hay gobierno? Soy contra.

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