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25 de julho de 2004
SOMOS MÍDIA
Os americanos sistematizam o que o Diário da Fonte já disse ao ser criado em 2003. A Internet é a mídia das fontes, daí o nome para este veículo, concreto, apesar de virtual, pois tem os fundamentos da comunicação: um editor/autor, leitores (poucos, mas fiéis) e interação com a produção jornalística e intelectual do nosso tempo. Dá até furo!, mas isso não tem importância, já que o furo perdeu o sentido quando a informação é simultânea e viaja na velocidade da luz. Sabemos agora que o colunista Dan Gillmor coloca o trabalho de jornalistas independentes na Internet como uma ameaça real à tendência monopolista das grandes empresas de comunicação.
BABACAS - Os jornais brasileiros imitaram tanto os americanos que foram à falência. Estão sendo comprados por aqueles para os quais baixaram as calças. Agora vamos ver de verdade o que é jornalismo de resultados. Na Folha, que fez esse tipo de transação (e a Abril também), foram para rua 50 pessoas da redação. Não precisam mais de jornalistas brasileiros, vai vir tudo prontinho do exterior, as análises, as resenhas, as reportagens, as colunas, as matérias principais, os editorais. Jornalismo brasileiro vai ficar confinado à Internet, pois aqui por enquanto temos liberdade de chutar o balde (daqui a pouco baixa a repressão, ou seja, a exclusão). O jornalismo americano, com sua babaquice estrutural, deveria ser motivo de sarro na imprensa brasileira se ainda tivéssemos a noção de grandeza que um dia tivemos (já zeramos uma vez a dívida externa, foi em 1945, quando derrubaram o governo que conseguiu essa façanha). Hoje temos esse simulacro de new journalism, sempre com aberturas metidas a interessantinhas, bem ao estilo do speech, discurso, americano, que começa sempre da mesma forma (vejam que coisa engraçada me aconteceu quando estava vindo para cá fazer esta conferência). Os americanos, por serem monopolistas, mergulham fundo no universo babaca. Leio no magnífico Rascunho (o maior jornal cultural do País), que o festejado Paul Auster (ainda não tive a dose necessária de paciência e oportunidade para ler) refez a história de H.G.Wells e colocou um personagem do passado encontrando alguém do futuro para fazer o quê? Claro que para impedir o assassinato do John Kennedy. Os americanos acham que podem driblar a morte e sacanear com o destino. Acham que podem refazer o mundo à sua imagem. Querem ser os reis da cocada preta e pontificar sobre a própria mortalidade. Isso cola para quem acredita neles. Quando a Folha mudou para imitar o USA Today, o jornalismo brasileiro acabou. As reportagens sumiram e a frescurada tomou conta da mídia. Foi a explosão dos Smiths e da obrigatória colocação da idade em cada pessoa citada. Tua-mãe-sem-calça, 52.
TAINÁ - A Amazônia brasileira não é patrimônio da ?humanidade? (nome de batismo dos americanos, que se sentem os únicos humanos), é patrimônio do Brasil. Não faz parte do ?planeta? (terra de ninguém sob a guarda dos Estados Unidos), mas do território nacional. A Amazônia, como toda floresta, corre risco, mas existe até hoje porque foi preservada. D. Pedro II não deixou ninguém entrar, nem o van Humboldt, nem permitiu navegação no rio Amazonas. Fechou as portas para a pirataria internacional. Enquanto eles destruíram todo o mato que tinham, aqui ficamos com a floresta inteira. Agora eles vem dar lição de moral. O Brasil embarca nessa canoa furada ao revelar sua fraqueza em filmes como Tainá. O filme formata a percepção futura sobre a Amazônia, o que o torna não-inocente, apesar de ser uma obra concebida para o público infantil. De que trata o filme? Menina órfã é criada pelo avô. Ou seja, está desprotegida, sem pai nem mãe. Não pertence mais a nenhum povo, está à mercê dos bandidos traficantes de animais. Precisa ser protegida. Por quem? Pela bióloga mãe de um menino ruivo. Este, veste-se com roupas de baseball e quando se entusiasma diz yesssss. O menino ruivo e a menina índia órfã é o casal do futuro: o Brasil, ou melhor, a Amazônia, entra com Tainá, símbolo da floresta que corre perigo; o pensamento politicamente correto (invenção americana para encher o Terceiro Mundo de culpa) entra com o ruivinho gritador de yes. Fez o maior sucesso. Entrou no currículo escolar. Tem uma estrutura de filme da Disney, como já foi notado. Humor, personagens, situações, tudo chupado da Disney. Alguma dúvida para quem serve? Vem aí Tainá 2. A aventura continua: a do olhar sobre o trabalho que aborda nosso território. Amazônia não é terra sem História. Tem um povo dentro, o brasileiro. Pertence à nação chamada Brasil. Portanto, os filmes sobre a Amazônia precisam tomar o partido do país, e não da apropriação global. Assim como o poeta amazônico Thiago de Mello tomou partido pelos excluídos.
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