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14 de fevereiro de 2004
O POEMA DO JEITO QUE FOI FEITO
Escrevi esse poema e publiquei apenas duas estrofes dele no meu livro No Mar, Veremos (Ed. Globo, 2001). Hoje, relendo, acho que merece todo o espaço disponível. Por isso reproduzo abaixo, com tudo.
CASTRO ALVES
Nei Duclós
I
Palavras, balas
perdidas no cérebro:
perigo de morte certa
O poema fura os olhos
o que mata fica na memória
O poeta volta
como a primavera
II
Voz de azul
pés de barro
rega o silêncio com ferro
O sofrimento é maior que o mistério
nenhuma canção o suporta
Nenhum choro lhe cerca
de consolo ou vitória
O sofrimento não é solitário
e põe ovos
O mar carregou ventres inchados
de ódio
O poeta chora por nós
de garganta aberta
III
A morte não leva o poeta
como a prece
não o redime do inferno
A vida não basta ao poeta
nem a velhice lhe seca
Só a juventude pode matá-lo
com armas secretas
Quando o coração desce
a luz do homem se transfere
Um dia a vida voou
para outras terras
mudou de estação
Como a primavera
o poeta volta
IV
A Bahia fez um filho
leve como a espuma
como areia presa à pele
A Bahia fez um filho em brasa
hoje tem saudades de estátua
V
Estou calado
a liberdade é uma pérola
não sei mergulhar
nem tenho barco
Não posso falar como falavas
Bem-vindo seja, camarada
bem-vindo à minha alma
fui sonhado por ti
e não sou nada
O povo canta em voz baixa
te procuram em minha casa
Foste preso mais uma vez
ontem à tarde
Mas teus versos não batem
em retirada
RETORNO - Neste verão de poucas mensagens, agradeço as artes de Ricky Bols, artista maior, as mensagens de Paulo Nogueira, agência informal de notícias, e o link para este blog do talentoso Tony Monti, revelação da literatura brasileira.
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