Nei Duclós
Woody Allen coloca o espectador do cinema numa trama fundada
em seus filmes favoritos. Como em Um misterioso assassinato em Manhattan (1993), em
que o aficcionado em filmes antigos enfrenta o vizinho vilão na sequência final
atrás da tela de uma sala de cinema onde passava A dama de Xangai (1947). Os filmes
que fazem parte da narrativa são do mesmo gênero do filme que Allen produz.
Em A Rosa Púrpura do Cairo (1985), a apaixonada pelo cinema acaba
se envolvendo com um personagem do filme romântico que adora. O refúgio da sala
escura iluminada pelas obras inesquecíveis, torna-se o cenário das obras de
Allen, que assim pode trafegar pelas histórias que fizeram sua cabeça e fazem
parte de sua persona de autor. Eu não cito, eu roubo mesmo, disse ele sobre seu
hábito de misturar os filmes de sua preferência aos trabalhos que desova
sucessivamente.
Woody Allen é um diretor com plena noção de que Todo filme é
sobre cinema, titulo do meu livro que saiu pela Editora Unisinos. Allen ator,
atrapalhado, hilário, cerebral, é o personagem sem chances de encarnar os seus
mitos cinematográficos. Então interage com eles a partir da memória, sob o
ponto de vista do elo mais frágil, o espectador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário