12 de agosto de 2016

CACTO



Nei Duclós 

Aumenta a responsabilidade
dos sobreviventes. Não pelo testemunho
que ninguém atenta
ou pela curiosidade que os longevos
despertam com suas bizarrices
de outros tempos

Tampouco pela sabedoria obsoleta
Décadas de estudos que somem
num clic. O que chamam de experiência
e é só vento. Nascemos todo dia
junto com os moços. Por isso bocejam
o sonos dos justos

A responsabilidade  não vem das rugas
ou da convivência de celebridades
que vimos de perto e eram comuns
como dia e noite. E não tinham essa aura
que a admiração sustenta
ao inventar um Cristo por semana

Quem fica para semente
assume a carga, que se torna insuportável
quanto mais trabalha a morte
fazendo estrago entre a gente
É isso que curva as costas
e não a exaustão da carne

A missão de quem fica é o olhar
sobre o abismo. Entender que nada
sobrevive, nem mesmo a solidão
que hoje nos amarra. É esse desespero
na mansidão sem fala. A lágrima
enxuta como um cacto


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