Nei Duclós
O terrorismo fecha o cerco. Primeiro feriu a liberdade de
expressão no atentado contra os cartunistas. Depois massacrou a opção coletiva
de lazer numa boate. E terceiro reprimiu manifestação cívica de celebração da
identidade nacional.
Estamos em guerra novamente e desta vez ela está disseminada
por todo o tecido social. O front é aqui. A civilização tornou-se vulnerável
demais ao se iludir que poderia definir a linha de conflito, quando esta
esgarçou-se, migrou para as fronteiras dos países ricos e invadiu o coração das
cidades antes consideradas seguras.
Tornou-se arriscado promover aglomerações gigantescas em
jogos, shows, eventos patrióticos. É fácil para um ou mais matadores atirarem a
esmo, sem ver a quem. Não importa o indivíduo morto, mas o impacto nos hábitos,
no imaginário, na política. O que era exclusivo de países barbarizados agora
estende-se para cada metro de calçada, avenida, edifício, bairro, casa ou rua.
Os aparatos de segurança são obsoletos, assim como os
esquemas de inteligência. A violência emerge de qualquer lugar e sob qualquer
roupagem. Está chegando ao fim a impunidade dos governantes que confiam nas
tropas estabelecidas e imobilizadas, e na eternidade do sistema financeiro de
exploração global para continuarem no poder. Os pilares dos princípios e das
leis fazem água. Há um tsunami prestes a explodir em cada iniciativa de
extermínio.
Claro que tudo isso não passa de pessimismo, dizem. É
preciso confiar que as coisas voltem ao normal, enquanto elas se intensificam
no perigo. Até quando os mortos atirados no asfalto serão contados pelas
estatísticas sem que algo mude profundamente? Não abriremos mão do nosso estilo
de vida, dizem europeus e americanos atingidos de morte. Vão ter que abrir e
não será se transformando de novo em ditaduras. Já foi provado: isso não é uma
solução.
Não há outra saída pelos poderes que se consolidaram no
discurso fúnebres das ideologias salvacionistas, democracia inclusive. Terão de
mudar, e para melhor. Como ? Esse é o desafio.
Já existiam sinais de que o bicho ia pegar. Bem.O bicho
pegou.
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