Nei Duclós
Espelhos revelam o que pretendo esconder com as palavras.
Pareço pessoas que povoavam minha infância.
O afiador de tesouras, o atirador de facas, o tenor de
circo,
o verdureiro, o dono do bolicho, o guarda noturno, o
fazendeiro
de linho branco. Personagens que assomam num relance,
quando me movimento diante desses estratégicos vidros
com aço nas costas e servem para iludir a aparência.
Quero ver refletir quando estivermos lutando
para escapar do abismo, escorregando
pela borda do buraco negro. Por isso componho o verbo
como quem obedece a uma receita, e que sempre trai o sabor
porque troco os ingredientes. Jamais tenho em casa
o que precisa. Sou o vizinho antigo que pedia um dente de
alho,
uma colher de azeite, uma pitada de sal.
Para fazer o almoço dos passarinhos
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