26 de março de 2013

FOLHAS SECAS



Nei Duclós

São folhas secas o que te falo para ninguém saber. Amasse cada uma delas e cheire o que guardam antes de te perder.

Perdeste o trem, espere a próxima aurora. Talvez tenhas sorte de embarcar junto com o poema miserável que te adora.

Chegaste bem na hora de me dizer adeus.

Escapas com a secura pelo poema dentro da bolsa. No meio da viagem tiras para ver se ainda está lá, pedindo água.

Lavei o rosto com tua água fria. Depois vieste me beijar, contraditória.

Fique comigo antes que te sequestrem. Compartilhe o doce caminhar na praia. Lá onde sopra o vento do mar, irmão do acaso.

Tão cedo, disse o deserto. Queres que eu espere teu poder de estrago? perguntou o poeta.

O dia não faz sentido antes que acordes. Só depois, quando chutas as cobertas é que o sol fica digno de seu trajeto.

Acordei junto com as asas que ruflam sobre teu imaginário sono. Pois estás desperta e finges não ser bela.

Chamam de poesia para que fique numa redoma, numa gaveta, num nicho, numa estante, num evento, num canto de página, num anúncio. Mas tem outro nome. Coração, como bem sabes.

Flor é mistério. De onde vem o desenho que deslumbra os ares e atrai nosso olhar, pássaro de uma vida precária?

Não aposte no abandono. Estou contigo mesmo que caminhes entre urzes. Ou em outra palavra qualquer que meta medo.

O rosto que mostramos com brilho de Lua cheia sabe onde fica nossa face oculta?

Vou contratá-lo para redigir as leis, disse o soberano. Compareça aqui todo domingo. É quando posso conversar com o espírito publico que dita o bom senso.

Mudou a Lua. Ficou Cheia na nossa alma vazia.

Fim de domingo, debut do outono no ano que recomeça.

Tentei mas estavas ocupada. Volto na próxima vida


RETORNO – Imagem desta edição: Audrey Hepburn.