21 de março de 2013

UM ESTRANHO FILME FRANCÊS



Nei Duclós

Vi ontem na Mostra Internacional de Cinema, na TV Cultura (SP), o estranho filme Lady Jane, de Robert Guédiguian (2008). É sobre vingança. Protagonistas criminosos feios tem um pacto de solidariedade e fracassam em todos os sentidos quando se reencontram 20 anos depois de um assalto que acabou em morte da vítima.  Vemos em filmes estranhos como somos colonizados pela estética americana. Ariane Ascaride (mulher do diretor) é Muriel, de meia idade, sofrida, divorciada, que perde o filho num sequestro e é amada pelo cara de sapo com bigode François ( Jean-Pierre Darroussin ), ladrão, casado, duas filhas, violento, bruto.        Gérard Meylan é René, mafioso que lida com bingos e chantagens. Os dois comparsas tentam, em vão,  ajudar Muriel a salvar o filho.


A visita que fazem às suas origens, o bairro pobre de onde saíram bandidos, impressiona pela presença de Henri (Jacques Boudet), o velho gangster gordo e imobilizado numa cama, que fica vendo noticiário sobre as vinganças no Oriente Médio.  Em tudo o cinema francês aborda o humano. Na América vemos bandidões de todas as espécies que são robôs, caricaturas. Aqui se trata de gente real, viva, demolida, sem o mínimo charme, que ficam ofegantes quando cometem crimes, que dançam no seu próprio código de honra.

Lady Jane é o nome da perfumaria que Muriel compra depois do assalto às joias, e que desencadeia todo o processo de vingança. O vingador, filho do homem morto no roubo, não se sente recompensado depois de matar o filho adolescente de Muriel. Há um vazio geral num mundo que escolheu a vingança como ação permanente. Solte-o, diz a mulher, alguém tem que por um fim nisso. Mas o veneno está profundo demais para ser erradicado.

No meio das cenas, diálogos intensos (escritos por Jean-Louis Milesi e Robert Guédiguian): “Quero te rever em algum lugar mas descobri que nunca mais vamos nos encontrar”, diz a mulher lembrando o filho morto enquanto observa um pássaro que entra pela janela. “Não sei se a amo, diz François, ou se é meu esforço em amar, ouvir meu coração batendo, coisa que ele não faz há anos”. Coisas assim. Filme estranho que se impõe aos poucos, principalmente depois que acaba. Decidi que gostei.                 



RETORNO - Aqui uma boa crítica e informações sobre o filme http://criticos.com.br/?p=1525&cat=1