23 de março de 2013

ESCUTE OS PÁSSAROS



Nei Duclós

Escute os pássaros. Eles te levam meu recado. É suficiente ou terei que manipular a rota das estrelas?

Ninguém quer o teu lugar quando estás na linha de tiro. Só quando chegas exausto no armistício.

Li de fato quando fingi que lia na pose para a foto. Na imagem apareceram fios de uma estranha linhagem, a imaginação virando carne.

Foi tarde demais meu pedido de socorro. Tinhas partido e eras a única que podia me salvar.

Me pego falando com as roupas. São tão antigas, tão puídas, que me sinto responsável.

Destruímos tudo, porque assim estava escrito. Me beije antes que a eternidade nos confine.

Fui deixado para trás, no front.

Hoje estou a fim de te querer por isso vou dizer assim meio no tom de um velho roquenrrol.

Durma enquanto é Tempo. Quando acordar, estarei em Marte.
 
Te desejo em vão. Acreditas que sou de outra e te recolhes. Sou assim condenado à solidão.

  Solidão, permaneces intacta porque escondes o rosto. Fica difícil te identificar para o bota fora.

 Já fui teu, agora sou de Lua. Um dia em alto mar, uma noite em terra bruta.

 Ouso dizer a imaginação que te cerca, sem ser invasiva, apenas um aceno de pele e olhar sem nenhum lance extra, amor na menor partícula de semente.

 Amor, e não se fala mais nisso

 O que restou de nós foi o amor que se recusou a morrer, a despeito dos nossos esforços. Não é ele que se arrasta, pois brilha acima das estrelas. Somos nós os habitantes da terra em conflito que buscam uma nova chance.

 Fui roendo o tempo até chegar ao osso:nenhuma pose na falta de ilusão vaidosa, a não ser a segurança que te trespassa na hora em que tie tiro para a última dança.

A Lua jamais se cansa. Agora está Crescente. E assim por diante. Porque inventamos de ser diferentes? Bastam as fases do mesmo ser, eternamente.


RETORNO - Imagem desta edição: foto de François Raimbaud.