Nei Duclós
Sou o selvagem descoberto no
deserto. Vestia peles, comia insetos. Líder do resgate, me levaste para o
acampamento. Lá me lavaste com água de cântaros serenos.
Fugi na hora do levante. Nadei em
rios sem batismo. Me recolheste náufrago num filete de sereno que molhava o
dorso da tua paisagem.
Cansei de me perder. Aceitei teu
convite para ficar. Podes me visitar sempre que a estrela dalva der o sinal.
Onde estavas quando participei da
colheita? Dona de terras, nem prestaste atenção nas flores que amassei em tua
homenagem.
Entrei no piso de mármore dos
poderes para pregar a fuga.Não se escandalizaram com minha aparência de
peregrino. Mas acharam repugnantes as palavras que eu tinha para Dizer.
Inventei parábolas quando havia
fome. O povo dormia sonhando com sementes. Acordavam sedentos de um amor que
ameaçava as pedras.
Levei meu povo para o deserto.
Chegamos ao destino depois de 40 anos. Tínhamos as marcas de um compromisso em
nossos corações exaustos.
Éramos uma nação sem território. As
nuvens então vieram em nosso socorro.
RETORNO – Imagem desta edição: cena
de The Searchers, de John Ford.