24 de março de 2013

SÓTÃO DE SONHOS

Nei Duclós
 
Contigo minha cota de amor atingiu o teto. Destampe o coração, sótão de sonhos.

Vieste me dizer que não existimos. Como personagens reais de um romance não lido.

Amor, estranha fronteira. Temos medo de cruzar quando já estamos do outro lado.

Fiz um teste. Enviei minha pior imagem. Foi a que vingou na tua cabeceira.

Falei um monte de coisas lindas. Puseste no chão, pois não tinha mais lugar.

Sou maquinista de um trem de poemas. Aguarde na estação mais distante.

É inútil repetir que te amo. Já estás imune, flor da indiferença.

Dê de comer aos versos, disse ela para o vento.

Cavaleiro andante, compareci à tua festa. Rias de alguma coisa entre bocas escancaradas. Ms ao bater o olho em mim, entraste em alfa, centaura.

Nada do que você fala existe, disse ela. Invento um lugar para parar de mentir, ele disse.

A Lua cansou da poesia. Está estudando logaritmos.

Dieta muito severa, doutor? Um mês sem poesia, disse o médico. Precisa baixar o colesterol.

Crescente quase chegando à perfeição da Cheia.

Aflitos violinos na sesta de domingo. São teus sonhos experimentando as cordas de uma sinfonia.

Te apaixonaste por uma dúvida. Não consigo te separar dela.

A poesia foi vencida por coisas mais urgentes. Como tua necessidade de viajar para o Oriente. Ou os trabalhos que faço, nas estradas de vime enquanto aguardo o diamante das estrelas.



RETORNO - Imagem desta edição: obra de Ivan Olinsky.