14 de março de 2013

RECOMEÇO



Nei Duclós

No futuro, vamos conviver
em enormes estruturas de silêncio.
Aquele silêncio a dois de casais antigos,
interrompido apenas por trovões
que arrancam  palavras embaladas
em segredos.

Nas varandas ficará difícil encontrar
teu verso descontínuo depois de tanto mistério
Estaremos prontos então para um salto mais fundo
no abismo do cosmo, quando formos espíritos
treinados em pactos não cumpridos
jogo de avessos, traições de luzes

Rompemos os acordos porque nossa natureza
é feita de eras glaciais depois de dilúvios
e geramos ursos polares devorando violetas
Renasceremos quando o paraíso for reconstruído
pela mão de um deus moço, demiurgo do verbo
modelando o barro em busca da forma perfeita

Tu, deusa oculta que hoje me escapa entre os dedos
serás o modelo, e eu tua costela, o lado bruto
que sonhou o poema, som misturado ao sonho
imerso em si mesmo, tua beleza,
carne de relâmpagos, corte de açucenas
Criação do mundo que se perdeu há tempos


RETORNO – Imagem desta edição: Vivien Leigh..