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1 de março de 2011
LOUCURAS DO VELHO PURPLE REVISITADO
Em 1977, o rock não era um grande assunto no jornalismo, pelo menos no que me cercava. Tido ainda como alienação, estava restrito a algumas tribos e eu escrevia praticamente para poucos (pelo menos era o que eu achava; só muitos anos depois descobri vários leitores que diziam acompanhar sempre esses textos sobre música que publiquei na Folha). Não consultava anuários especializados, pois não dispunha e me baseava nas excelentes contracapas e em alguma leitura esparsa. O resto era percepção própria, ousar dizer sem saber se estava acertando o alvo. Hoje, relendo matérias como esta, fico impressionado como o texto repassava uma segurança sobre o assunto que, intimamente, nunca tive. Tanto é que depois me afastei dele, mas mantive algumas preferências. O bom é que fiz uma soberba discoteca de vinil, muito escutada durante décadas até que as mudanças, os dvds e que sei eu mais deixaram tudo solto no limbo.
Folha de S. Paulo, Ilustrada, seção Toca Disco 22.09. 1977
NEI DUCLÓS
Em 1968, quando o conjunto londrino Deep Purple gravou seu primeiro LP. "Shades of" — relançado agora pela EMI-Odeon, com uma capa diferente — o rock progressivo já estava estabilizado definitivamente no mercado através do 2.° LP de Pink Floyd. Um ano antes, os Beatles tinham gravado "Sgt. Peppers", um álbum fundamental na história da evolução do rock. O Deep Purple, entretanto, apenas "arranhou" nas inovações, usou os avanços da música pop sem a profundidade de Pink Floyd e seus seguidores, que através da música concreta, chegaram a desmantelar todos os arquétipos fundamentais do velho rock.
Mas o Deep Purple, nessa estréia que fez grande sucesso, principalmente através da faixa "Hush" (de Joe South), permaneceu num meio termo inteligente. Seus vôos eletrônicos servem apenas para criar climas diferentes e estranhos, mas nunca chegam a desviar o Purple do rock pesado, presente nas ótimas Hey Joe, Mandrake Root e l'm so glad. Entretanto, "Shades Of" não é um disco que pode ser esquematicamente colocado em alguma "escola" de rock. E melhor encará-lo como um disco de transição, o que não quer dizer indecisão ou falta de solidez.
A regravação de "Help" (Lennon e McCartney), por exemplo, mostra a vontade do Purple em aderir às novas dimensões sem abdicar do passado. '"Help" é interpretado como um lamento, um apelo feito com desespero. E um contraponto daquela alegria inicial dos Beatles e uma maneira de repensar os sucessos com um novo enfoque, mais do que uma nova roupagem.
Naquela época, o Deep Purple era formado por Rod Evans, vocalista e co-autor de "One More Rain" e "Love Help me": Jon Lord. organista e co-autor de "And The Adress" e "Mandrake Root": lan Paice, que em "Mardrake faz um excelente solo de bateria, e Ritchie Blackmore. guitarrista e co-autor de algumas músicas. Junto com Lord e Evans.
Pena que mais tarde, o Deep Purple tenha realmente caído na indefinição e perdido bastante esse pique inicial de "Shades Of", um álbum antológico de um tempo em que surgiram as principais idéias que hoje ainda orientam o rock.
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