4 de setembro de 2010

NA ZONA DO AGRIÃO


Consta que foi Silvio Luiz, o narrador esportivo que fez falta na Copa da África, por ter sido deixado no Brasil por pura sacanagem dos invejosos que jamais criam nada para a cultura brasileira, quem batizou a área pequena do futebol de zona do agrião. Lá onde as coisas se decidem, a coruja pia e a onça bebe água. Serve para fazer uma paródia do título de Green Zone (2010), ou Zona Verde (o centro de poder no miolo da guerra), do diretor Paul Greengrass, com roteiro de Brian Helgeland, baseado em livro de jornalista correspondente no Iraque, do Washington Post, Rajiv Chandrasekaran.

O ator é o talentoso Matt Damon (foto acima), um dos melhores da atualidade, sempre intenso e correto em seu trabalho concentrado, que faz o papel do subtenente Miller, o cara que segue os mapas da CIA para encontrar as tais armas de destruição de massa do país de Sadam Hussein e não encontra nada. Desconfiado, relata para seus superiores e leva uma dura, pois as tais armas eram a justificativa para a matança. It´s all about! grita Miller para os burocratas que diziam não ser esse um fato relevante. É a coisa em si, porra, que brincadeira é essa?

Engraçado que a mídia em peso ficou a favor da guerra em 2003, desencadeada por pura vingança de George W. Bush, que queria dar o troco dos atentados de 2011 contra as Torres Gêmeas em Nova York, mas no fundo precisava era mesmo definir à força espaços na área do petróleo. Para atender interesses da própria família, envolvida com a indústria do petróleo, Bush tocou fogo no Oriente Médio, promovendo a carnificina de civis e colocando os soldados americanos como bucha de canhão.

O álibi, como sempre, era a democracia, a panacéia perfeita para os tiranos, como vemos por aqui no Brasil. Para defender a honra vilipendiada da nação que perdeu 3 mil pessoas nos atentados de 2001, Bush promoveu um desastre, seguido por paspalhões como o britânico Tony Blair, o que chamou a atenção do diretor inglês Paul Greengrass, que foi atrás do assunto e acabou se aprofundando. Blair foi julgado por crimes de guerra. Os franceses se omitiram e por isso foram execrados pelos americanos, que encheram de cacos contra a França seus filmes patrocinados pelo Pentágono e a Casa Branca.

A tragédia foi política. Ao colocar o exército iraquiano fora da lei, ao implantar um governo títere de um exilado que havia 30 anos não pisava no chão do país, ao dar carta branca para as estrepolias da CIA e ao usar as Forças Armadas americanas para fazer o serviço sujo que, em tese , não se sustentava, os Estados Unidos cumpriram sua função de Império da era global. Estão lá há oito anos e agora Obama anuncia o fim da intervenção, tendo o cuidado de deixar em prontidão 50 mil soldados. Vai concentrar forças no Afeganistão. Esse é o Prêmio Nobel da Paz, um deboche a todo esforço pacifista mundial. O Nobel estimula os algozes ao fornecer-lhes o álibi perfeito para a matança. Foi assim também com esse assassino, o Kissinger.

A história é de ficção, mas é à clef, ou seja, tem tudo a ver com os fatos. Tanto é que o subtenente Miller é real, existe e deu consultoria para o filme. Um general iraquiano foi até a Jordânia informar a CIA que não existiam armas de destruição de massa, já que tinha sido um projeto abandonado em 1991, na primeira guerra do Iraque, contra o Kuwait, que teve a intervenção do Bush pai. O agente americano distorceu tudo e baseou nesse depoimento a evidência oposta, ou seja, que tinha em mãos até os mapas das armas escondidas. A informação falsa foi passada para a mídia, que mordeu a isca sem checar nada. O tenente Miller tenta consertar as coisas, mas o general iraquiano Al Rawi (interpretado pelo assustador Yigal Naor) mata a charada: “Eles queriam invadir e invadiram. Arranjaram uma justificativa”.

É assim que eles fazem. A indústria de petróleo é a praga do mundo. Ninguém me tira da cabeça que esses acidentes no Golfo do México (ontem outra plataforma estourou) não é promovida pela concorrência que quer tudo concentrado no Oriente Médio. Ok, teoria da sconspiração. Mas é o que diziam quando Bush invadiu o Iraque. Todos clamavam: Não existem armas químicas, é mentira. Ora, era também teoria da conspiração. Deu no que deu.

O filme é bom, com uma câmara instável, grudada na ação, com interpretações ótimas e faz uma denúncia importante. Tardia, mas nos serve. Tem também o fato de os americanos sempre procurarem tirar da reta. Nossos governantes erraram, mas temos gente boa no Exército e na CIA que tenta consertar as coisas, diz o filme. Picas. Se existem, não apitam. E só apitam quando a oposição vence a eleição presidencial e aí são convocados para consolidar o novo poder em Washington. No geral, dançam conforme a música. Jamais poderão trair a América imperial, por mais civilizados que se achem.

RETORNO - Anunciei ao vivo, no meio da semana que iria fazer este post para Marcelo Fernandes, da rádio Guarujá, aqui de Santa Catarina, que tem um novo programa A Ronda dos Blogs, transmitido às quatro da tarde. Marcelo coloca tudo no ar. Ouçam.

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