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21 de julho de 2006
PRODUÇÃO DE PENSAMENTO
O pesadelo da linguagem tem uma cena recorrente: um rosto que se expressa como se estivesse catequizando o gentio. De onde veio isso? Da reforma da educação do Jarbas Passarinho, dos anos 60, que destruiu a educação no Brasil. Baixou o nível intelectual do país e o lugar de destaque foi ocupado pela mediocridade imperante. Em qualquer segmento, há sempre uma cabeça sacudindo um sim, mudamente, para uma platéia cativa, ou seja, gente que estaria em outro lugar, mas por acaso ou forçada está ali, escutando a idiotia que finge estar produzindo pensamento. A situação é grave e tem sua vitrine principal na mídia. Vamos a alguns sinais que denunciam esse fundo de poço. E, depois, detectar como é tratada no Brasil a verdadeira produção de pensamento.
POUCA GENTE SABE - É simples mostrar capacidade de saber tudo e achar que os outros são umas bestas. Basta falar qualquer bobagem (já que é proibido dizer algo que preste, pois isso derrubaria o ibope) e, na frente, profeerir a expressão "pouca gente sabe". Ontem mesmo eu vi e ouvi a apresentadora fazer isso. Disse ela: pouca gente sabe, mas no sertão, apesar do clima seco, faz frio. O abombado que escreveu o texto e a jornalista que repetiu nunca souberam nada sobre o deserto, que é frio à noite e insuportável de tanto calor de dia. Mas, ahrrá! O sertão é frio porque perto do Recife existe uma serra e lá, como é alto, faz frio, entende?! Quantas vezes vimos essa matéria? É a fase lareira e vinho do noticiário, que sobe a serra gaúcha, vai a São Joaquim e a Campos do Jordão perguntar para as pessoas se está fazendo frio. Pouca gente sabe, mas a vontade é chutar o traseiro dos produtores de pensamento que exibem tanto conhecimento.
NO AGUARDO - É uma casamata, onde ficam os expectantes. O aguardo se situa em alguma fronteira, entre a boçalidade e a redenção dos panacas. Lá eles se plantam no aguardo, ao invés de seguir em frente, se retirar e deixar os outros em paz. Quem fica no aguardo usa uniforme, sapato de verniz e calça com friso. Carrega a tiracolo um mosquetão da primeira guerra mundial. Sempre que o talento se aproxima, ele mira o incauto e taca fogo. É por isso que ele fica no aguardo.
O JORNAL FICA POR AQUI - Os apresentadores, os repórteres, os correspondentes, as notícias, os aguardos, todos ficam por aqui. Você é convidado a se mandar. Eles estarão lá, ficantes, enquanto você procura uma saída. Abre uma porta e lá vem a campanha da dor de cotovelo. Seu melhor amigo comprou um carro novo? Que ódio! Assim é que são os publicitários e os executivos que decidem o custo dos anúncios na televisão. Promovem a inveja, porque, claro, ninguém presta e fatalmente as pessoas vão se identificar com o olho-gordo que aparece a cada cinco minutos na telinha.
CHAUÍ - Amigo meu esteve na UFSC na reunião anual da SBPC e verificou que lá existiam as cenas tradicionais de eventos universitários: os caras anos 60 tocando conga e soprando flautinha; a série de camisetas do Che, uma ao ladinho da outra; uma criançada em volta de tudo, como acontece nas bienais do Livro onde só falta engolidor de fogo, já que palhaço sobra. Mas a reunião teve coisas ótimas, como a palestra de Marilena Chauí sobre utopia, segundo outra pessoa que esteve por lá, e que fez um depoimento isento e capacitado. Estão desancando a professora Chauí por sua ligação com o PT. É uma covardia destruir sua verdadeira produção de pensamento (uma obra importante na filosofia) usando os erros do governo e descarregando em cima dela. Mestra Chauí tem o que dizer e merece respeito. E onde estão os covardes que a atacam? Pelo que leio e vejo, na mídia. Os falsos produtores de pensamento, os colunistas, articulistas, os privilegiados e monstros sem redação, os que se acham importantes e são um poço de inveja, pois jamais chegarão aos pés do brilhantismo de Chauí, a desancam de todas as formas. Ataquem o governo, peitem os poderes, mas não tentem acabar com uma militante do PT. Tudo é permitido no país sem lei?
RETORNO - Imagem de hoje: fotaça de Marcelo Min, que comentou o seguinte sobre ela: "Ventania e banho de areia em campo de futebol causados pelo helicóptero em que se encontravam a prefeita Marta Suplicy e o prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra." As fotos comentadas de Min no fotogarrafa estão imperdíveis.
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