O jornal que mexeu com os brios da ditadura em Porto Alegre entre 1973 e 75 era o caçula daquela poderosa Companhia Jornalística Caldas Junior, a empresa que foi destruída depois que se arvorou a ter um canal próprio de TV sem o beneplácito dos poderosos de sempre. Naquela redação, uma equipe estelar fez História apenas com alguns ingredientes: talento, coragem e respeito ao leitor. Em poucos anos, a Folha da Manhã foi, claro, assassinada.
AO ANDAR - Duas pessoas carregaram meus arquivos sobre a Folha da Manhã. Uma delas é a Valderez, secretária daquela equipe, que deixou um belo recado no livro de visitas do meu site. E a outra é Eduardo San Martin, que chegou de Nova York para uma visita rápida em São Paulo, de passagem para Portinho, de onde voltará em pouco tempo (San Martin é movimento constante). Com quatro livros de sucesso sobre piratas (pela editora Artes& Ofícios), mais alguns de poesia (como O Círculo do suicida) e ainda duas novelas inéditas, Eduardo me atualiza sobre Licínio Azevedo, me revelando que foi Licínio quem, fazendo matéria pela cidade para a sua editoria de Polícia da Folha da Manhã (a mais louca, a mais incrível, a mais contundente, a mais brilhante seção de polícia de todos os tempos), encontrou num táxi o nosso Caco Barcelos. Estimulado por Licínio, Caco deixou a profissão de taxista para abraçar para sempre uma magnífica carreira de repórter, sendo hoje um dos melhores jornalistas do país em atividade. Licínio, depois do assassinato da Folha da Manhã, deu por encerradas suas atividades no Brasil e mudou-se de mala e cuia para Angola, onde desenvolve um trabalho internacional como cineasta e autor de livros de reportagem. É uma pena que não tenhamos acesso ao Licínio, um cara que deixou funda marca na imprensa do Brasil e merece ser conhecido pelas novas gerações.
EDGAR E FRAGA - Eu fazia parte de um grupo de copy-desks, que pegava material de todas as editorias para dar um trato no texto, nem chegando perto, claro, das obras-primas escritas para a seção de Polícia. Pegávamos mais o material internacional e de economia e a reportagem geral. Mas era aquele trato fino, dado por meus companheiros de copy, como Carlos Urbim (hoje um escritor de sucesso), Ademar Vargas de Freitas (grande repórter que tem feito uma série brilhante de entrevistas no jornal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde trabalha também o maior jornalista cultural do país, Juarez Fonseca), o saudoso Dorival Pacheco, muitas vezes citado aqui no blog, e José Antonio Simch, que mais tarde trabalhou comigo na Folha de S. Paulo e hoje vive na sua Porto Alegre amada. Mas tinha muito mais. Lá trabalhava o irmão de José Simch, Edgar Vasquez, o mais radical artista da imprensa do país, um talento sem fim que nos brinda com inúmeros trabalhos ao longo de uma carreira maravilhosa. Havia também o Osmar Trindade, um dos muitos jornalistas formados na imprensa de Livramento, especialmente no tradicional A Platéia, jornal que desovou no Brasil inteiro profissionais do mais alto nível, um grupo pontificado pelo incansável Jorge Escosteguy, que foi-se prematuramente e também já foi homenageado aqui. Junto com Edgar trabalhava o Fraga, humorista e agitador cultural (que empresta sua cara para as capas do Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo), que provocou todo mundo incentivando-nos a fazer humor . O que mais? Pois José Onofre, Ruy Carlos Ostermann e Luis Fernando Veríssimo, para dizer o mínimo. Foi demais. Não agüentaram. Baixaram a intervenção.
TEMPO - A redação era tão louca que nos envolvemos numa polêmica terrível pelo mural, pois uma parte da redação não gostou quando Caco Barcelos entrevistou o prefeito-interventor da cidade. Não podia, nós, os politicamente corretos fomos em cima. Dá para acreditar? O pobre do Caco ficou surpreso, pois, como sempre, fez uma bela matéria. Mas os ânimos estavam exaltados e todo mundo sonhava com a revolução. Hoje sabemos que a revolução verdadeira é o Tempo.
RETORNO - É bom que os leitores deste blog se agendem, pois até o final do mês estarei lançando um novo livro. Por enquanto é surpresa. Quando chegar a hora, digo. E quero todo mundo lá, senão chamo o cabo Adão para decidir a parada. Como todos sabem, o cabo Adão resolve.-
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