Nei Duclós
O mar na minha infância
como um trem no sonho de um louco
um disco voador na porta dos fundos
como o fim do mundo
com ondas voltando de viagem
O mar como um desastre
como um avião que cai no mar
O mar como nunca
verde-claro com rendas de espuma
a dois passos de mim
como um trunfo, um presente
a ser guardado para sempre
um bloco de anotações
um lenço dobrado
Como pássaro de sal com plumas de água
o mar levantou vôo na memória
como as pandorgas
que se enforcam nos fios
Aquele mar se afogou no tempo
escapou das mãos como um peixe pequeno
(Do livro Outubro, IEL/RS, A Nação, 1975)
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