Ao longo de outubro de 2019 está exposta no Centro Cultural de Uruguaiana, RS, um trabalho feito a quatro mãos: fotos da artista plástica, escritora, poeta e fotógrafa Marga Cendón, com poemas meus feitos especialmente (com exceção de dois, já publicados em livros) para estas imagens. A seguir alguns exemplares da mostra. Segue no próximo post.
ROMPANTE
Flor é penugem do campo
Amacia o rosto bruto
Parece água à distância
Diante do céu se maquia
Um outro cheiro cavalga
O dorso do pasto pobre
Cobre de luz a moldura
De uma paisagem sem nome
Fico perto porque assoma
Algo maior nestes ermos
Um rompante feminino
Na garupa de um perfume
Nei Duclós
Sobre foto de Marga Cendón
Da exposição SEM ARESTAS
No Centro Cultural de Uruguaiana.
Nei Duclós
Sobre foto de Marga Cendón da exposição SEM ARESTAS
QUERÊNCIA
Imenso, é a palavra do campo
Sem limites no seu corpo verde
Cabe nela o tesouro vasto
Feito de amor à primeira vista
Percorro sua luminosa especiaria
Querência, torrão de sentimento
Nenhum ouro vale tanta herança
Pertença por nascer em seus domínios
E morar em sua essência todo dia
Longe, como alguém que vai embora
Próxima para todos os instantes
Chego em ti quando respiro fundo
Sou tua voz que escuto em boa hora
Nei Duclós
Sobre foto de Marga Cendón da exposição SEM ARESTAS
BARCOS NA MARGEM nei
Não é preciso muito para a travessia
Remos ocultos no chão das chalanas
Dar as costas para a arquitetura
E esperar a noite, quando a ponte dorme
E sua sombra não reflete a lua
Cruzar no remanso a favor da correnteza
Levar no dorso o que a pesca desconfia
A margem do rio tarde se acostuma
Aos barcos imóveis imersos e duros
Mas eles escapam e cruzam a aduana
São ligeiros como piavas na linha
Nei Duclós
Sobre foto de Marga Cendón
Da exposição SEM ARESTAS
no Centro Cultural de Uruguaiana
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