Nei Duclós
Vejo matéria sobre a Bienal do Livro do Rio no canal Arte1.
Tudo limpo, iluminado, com pouca gente circulando nos corredores enquanto os
responsáveis pontificam, junto com alguns convidados. Nada de multidões lotando
corredores, engarrafamentos monstros, cobrança de ingresso a 16 reais etc.
Começam dizendo que a Bienal é para quem não vai a livraria, o que não é
verdade. Inúmeros exemplos de aficionados do livro vão para a Bienal ciscar preciosidades
e raridades, ter acesso ao que a distribuição precária e viciada das mega
livrarias sonega.
Falam também que a Bienal é cada vez mais dominado pelos
jovens, o que é verdade, e que eles vão lá e adquirem o livro autografado, o
que é meia verdade. Vi avalanches de jovens de mãos abanado. Foi por isso que
resolvi doar a caixa de livros de O Refugio do Príncipe para a meninada.
Exemplares novinhos, autografados, de graça, para quem se aproximasse do
estande e demonstrasse algum interesse pelas obras e o autor. Ou seja,
entupiram a Bienal de jovens e não lhes deram a chance de conseguir livros.
Pelo menos foi o que eu vi. Ainda mais que antes as escolas tinham 600 reais do
dinheiro público para comprar livros e desta vez tiveram rosca.
Autora de livrecos infanto-juvenis apelativos e comerciais
diz a asneira de que antigamente criança não tinha o que ler. Ah, não, claro.
Além da maravilhosa literatura estrangeira, de Peter Pan e Pinochio a Alice de
Carrol, tinha aqui Monteiro Lobato, Cecilia Meirelles, Mario Quintana,. Erico
Verissimo, Viriato Correa. Coisa pouca. Não existiam coleções superficiais e
datadas para encher a cabeça da meninada de asneira. Eu lia O Mundo da Criança,
espécie de enciclopédia, toda a obra infanto-juvenil do Lobato etc.E existia o
Pé de Pilão de Quintana, O urso com música na barriga, Rosa Maria no castelo
encantado, Três porquinhos pobres,As aventuras do avião vermelho e A vida do
elefante Basílio, de Erico Verissimo , Ou Isto Ou Aquilo, de Cecília. Dá um
tempo.
Falaram em dezenas de eventos. Impossível chegar até eles.
Caminhar pelos corredores era proibitivo. Eu precisava ficar no estande
atendendo a demanda, conquistando leitores. Preferi entrar em contato com a
diversidade do público e desisti de fazer contatos com autores e autoridades
livrescas. Saí perdendo por um lado, mas ganhando um tesouro valioso pelo
outro, pois conheci a fome de leitura de jovens e veteranos e pude falar um
pouco sobre meus 40 anos de literatura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário