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27 de dezembro de 2005
O QUE É DEMOCRACIA?
Democracia é a imposição, sem o uso da força, da vontade de um grupo, minoritário ou não, sobre outro, que lhe faz oposição (minorias têm vez nas democracias). Numa democracia, existe o voto vencido, que pode migrar, com o tempo, para um ou outro grupo. Ditadura é o oposto: é eliminar o conflito exigindo o consenso, ou seja, é desmoralizar a vontade alheia obrigando-a a virar a casaca. É exigir silêncio ou arrancar a confissão de quem não está pensando diferente. É obrigar Galileu a assumir a crença na terra fixa. É não ceder espaço para a diversidade.
MENTIR - É o que faz a ditadura civil brasileira: toma conta de tudo, para poder roubar o tempo todo. E cuida para que o imaginário social se estabeleça com parâmetros idênticos para todos, por meio da repressão, da televisão e do discurso oficial. Tanto faz lei ou voto, o que importa é mentir que todos pensam da mesma forma e querem isso mesmo, ou seja, merda em pó engarrafada servida aos potes para uma população em estado letal permanente. Minta que a pobreza diminuiu, minta que vamos crescer em 2006, minta que a corrupção só existiu neste governo, minta que você deseja consumidores que apreciem com moderação. Minta como Goebbels, que ensinou que assim é que se fabrica a verdade. E fuja da democracia, esse estado de eterna negociação, de vitórias e derrotas, de oposições, de idas e vindas, altos e baixos.
MESMICE - Democracia é trabalhar o movimento e não sentar em cima do caos e batizar a mesmice de ordem. Não há democracia no Brasil porque tudo fica como está e o discurso de encarrega de tomar conta de tudo. O proprietário da maior rede de televisão é também proprietário de um dos maiores jornais. O monopólio se estende agora ao cinema. As falas do povo são reduzidas a pó. Parecemos, se formos acreditar na TV, uma nação de idiotas. O rescaldo disso é o ressentimento dos indivíduos, os despossuídos de voz que acabam implodindo em opiniões cultivadas na solidão, na falta de repercussão para o que dizem. Um dos espetáculos mais tristes é ver os velhos fazendo discurso nos ônibus. Vidas inteiras no ostracismo explodem na terceira idade, para o divertimento de quem assiste ao espetáculo deprimente.
LIGADO - Entre a juventude, a disseminação da gíria acabou gerando as conversas mentalmente prejudicadas. O vocabulário foi reduzido ao mínimo, exatamente para dar espaço ao que é formatado pelos poderes. Há insurgência contra isso, mas no geral é que a maioria está ligada no erro, ta ligado? Há também algumas interjeições cool acompanhadas por leve sacudir de cabelos. Nesse círculo também medra a opinião pseudo independente, mas que no fundo está totalmente contaminada pelo sucateamento da educação, a arrogância e o passo duro e firme em direção ao nada. O normal, na meninada, é a violência. O cumprimento diz tudo: no lugar do aperto de mão ou do abraço, é a vez dos tapas e socos, que nada mais são do que a representação do espírito belicoso imposto pelo mundo transformado em mercadoria, e gerenciado pela ditadura civil.
SAIAM! - Democracia seria derrotar os monopolistas com todas as letras e vozes e votos, impor nossa vontade contra esse grupo que tomou conta do país. Para isso é preciso confrontá-los. Dizer: você não é um estadista, você não passa de um sujeito que vive se sacudindo pelo mundo, achando que nos representa. Saiam dos plenos poderes, fora com seus comerciais pornográficos, suas carinhas lambidas, suas viagens milionárias, suas prisões infectas, seus julgadores vestidos de preto, suas risadas canalhas diante da miséria de todos, seus subornos viabilizados por estatísticas. Queremos democracia, queremos impor nossa vontade e não concordar com a sacanagem que vocês armaram dentro da cabeça dos brasileiros.
RETORNO - A imagem é o quadro de Fulvio Pennacchi, o mais brasileiro dos toscanos, intitulado "Jogando futebol na praia". Há sempre uma obra do grande muralista, escultor e pintor para acompanhar qualquer assunto importante.
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