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31 de maio de 2009
PORQUE FLORIANÓPOLIS NÃO SERÁ SEDE DA COPA
O pessoal da Fifa preferiu Natal e eliminou Florianópolis da Copa de 2014. Natal é mais próxima da Europa, dizem. Porque Floripa não tem estrutura, argumentam. Porque não teve competência para se impor, falam por aí. Mas os motivos são outros. Descobri por acaso, num relatório feito por um espião da Fifa. Na cópia esquecida na areia no centrinho aqui de Ingleses, no norte da Ilha, há uma lista de argumentos definitivos para não sediar na capital catarinense um evento tão importante. São eles:
Porque nos dias de jogos iria chover. E choveria não só nos noventa minutos, como também nos treinos, nas horas de ir ao estádio ou sair dele. Nos dias sem jogos, não haveria chuva sob hipótese nenhuma. Seria só vento sul e eventualmente um ciclone extra plus tropical atípico. No final da Copa, quando todo mundo fosse embora, abriria o mais esplendoroso sol com céu azul de anil.
Porque, como diz o hino da cidade, aqui é um pedacinho de terra perdido no mar. É difícil para uma equipe com 22 jogadores, mais comissão técnica, mais jornalistas etc. pegar um navio, navegar semanas para chegar e descobrir que as pontes da ilha ao continente não ultrapassam os mil metros de extensão. Ou que a cidade tem a maior parte da população no continente. Prestar atenção nesses detalhes sem importância é pura implicância. Coisa de quem não é daqui.
Porque a Copa seria feita pelos que não são daqui. Não teria Guga nem Teco Padaratz, nem ninguém nascido embaixo da figueira. E como seria disputado no inverno, ficaria impossível vender bebida hipergelada, que é uma lei local. Não existe o conceito de temperatura ambiente. Ou as coisas são geladas ou quentes. “Quer quente, é? Então espera aí que vou te servir um café”. Por isso guarda-se no freezer tudo o que vem das fábricas de bebidas. Nada fica fora da temperatura abaixo de zero. Isso seria trair a ilha, terra de moça faceira, da velha rendeira tradicional.
Porque a Copa não poderia ser disputada no horário do almoço. Porque tudo para no horário do almoço, até mesmo os restaurantes, que fecham para o almoço. E seria duro ouvir a advertência tradicional de “não me apareça mais aqui no horário do almoço”.
Porque ninguém poderia chegar a tempo no jogo. Todos os acessos estariam lotados de pessoas que querem chegar ou sair do aeroporto.
Porque os argentinos não reconhecem a cidade no inverno. Eles só chegam no verão para ver las chicas, comer camarón, morar em Canasvieiras e freqüentar a praia do Santinho. Os argentinos desconhecem os outros extremos da ilha, para onde teriam que ir em dia de jogo. Se perderiam pelo caminho e acabariam na BR-101, em direção a Curitiba ou Porto Alegre. Então, é melhor ir direto para essas cidades, que foram aprovadas pela Fifa.
Porque, aqui, todo o corpo em movimento permanece em movimento. É um paradoxo difícil num terra com tantos engarrafamentos, principalmente para motoristas adventícios, que ficarão ilhados entre pedestres que jamais cortam o passo, bicicletas que nunca deixam de seguir em frente e automóveis que cruzam as preferenciais porque preferencial é exclusivo para quem é daqui. Vieste de fora e queres ter a preferencial?
Porque ninguém poderia derrubar o boi de mamão, feito de barro colorido, senão teria que pagar a loja toda. Não tem?
Confesso que fiquei aliviado. Assim poderei assistir os jogos pela televisão. Se fossem disputados aqui, não haveria transmissão direta. Teríamos que seguir pelo rádio ou acompanhar as atualizações nos sites informativos. Copa fora de casa é mais confortável. Comendo tainha, que gostam de aparecer quando há frio, vento e chuva.
RETORNO - Imagem desta edição: estádio da Ressacada.
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