Cada momento da terra gera uma camada que se acumula sobre
os vestígios da época anterior e essa pilha de níveis diversos serve pra
decifrar as eras geológicas. No filme O HERÓI (2017, Netflix) acontece o mesmo.
Uma camada de cinema nesta obra onde brilham grandes intérpretes, é muito remota: trata-se do gênero faroeste, hoje em
decadência e quase totalmente sumido e que neste filme serve de referência para
o drama do ex-cowboy veterano e em fase terminal (Sam Elliot, incorporando a si
mesmo, já que participou de vários faroestes como Butch Cassidy e Sundance
Kid).
Outra camada, mais próxima, são as cenas do filme lendário
interpretado pelo personagem e que aparecem em seus sonhos. E há a camada do
filme em si, tratado como "realidade", em que o ator de 71 anos faz
comerciais e aguarda algum papel importante. Mas é tarde demais e o diretor e
roteirista Brett Halley mostra um sobrevivente que sente remorso e procura
continuar fugindo, enquanto as mulheres d sua vida, interpretadas pela namorada
Laura Prepon, a filha Kristen Ritter e a amiga Katherine Ross (esposa de Sam na
vida real) o levam para um reencontro consigo mesmo e seus vínculos afetivos.
Serve par desconstruir um mito hollywoodiano do herói que a
todos vence, colocando o ex-vencedor diante da sua mortalidade. O saldo
positivo é a sinceridade e a lucidez do ator que não espera mais nada nem acredita em sua carreira, considerada
vitoriosa. A camada explícita, da história sendo narrada como realidade,
enterra as ilusões da camada mais remota, o gênero que serviu para fundar o
mito da América.
É um filme maravilhoso. Todo filme é sobre cinema.
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