Nei Duclós
Não tenho outro jeito senão te querer, flor ausente do
amanhecer.
A rede caiu bem no meio do verso. O que diria, se estivesses
perto?
O amor sem motivo é um mistério para ti. Não para quem te
ama, colibri.
Te apegas ao que parece ser amor, teus objetos de carinho.
Mas o amor está no inverno, não no cobertor.
Agradeces o amor que não entendes. Isso nunca te entendi.
Porque demora te desesperas. Tenha pressa apenas de ser o
que te faz inteira.
Fui acordado pelo espelho. Lá eu vi tua imagem, beleza em
sonho.
Passei por aqui, a noite me aconselha. Ela fala pelo
silêncio, jóia do Tempo.
Não sei o que pretendes. Melhor dizer logo ou então me
deixe.
Você finge que dorme enquanto coloco o quarto de pernas para
o ar. Só acordas com um beijo, que nego por precaução. Se cedo, acabo ficando o
dia todo embaixo do lençol.
Estou de saída, disse ela. Sou para onde vais, disse ele.
FAZ DE CONTA
Sei que estás ocupada, mas faz de conta que é domingo à
tarde.
Quando toca o telefone nunca é você, mas a emergência diante
do meu enfarte.
Quando não me respondes volto para debaixo da cama.
Quando estás on line meu coração navega.
Meia noite agora! O tempo, maçã partida ao meio.
PANTANEIRA
Deixo para vocês a glória da estátua e dos livros de capa
dura. Eu aprendo com a pétala da flor pantaneira, duro algumas horas.
RETORNO – Imagem desta edição: Keeley Hazell.