24 de abril de 2012

CADERNO



Nei Duclós


Fiz tua cama com poema. Não prestou tanta doçura

Tenho pouco a dizer. Leia meu corpo que desenhei no teu caderno.

Fizemos uma varanda com as palavras. Ela se recosta para ver a tarde caindo sobre rio. Eu puxo uma esteira de estrelas para cobrir o mar.

Você é como gota de mel que sobra entre os dedos depois do café da manhã. Atrapalha tudo com seu grude doce.

Fico cada vez melhor. Tenha paciência. Um dia te mereço.

Agora esqueça o que ias dizer e me beije.

O vento em conluio com a noite faz ameaças. Sinto daqui que tremes toda.

A tarde avança como eu na tua pele de louça.

O melhor do dia e da vida entregamos de bandeja em troca de trocos. Me dê fogo. Vamos queimar o tempo com outra lenha.

Te colho no outono, plantação de estações distantes.

Muda é o estado em que estás antes de brotar.

Pedes que eu me cale enquanto tocas no meu pé descalço.

Faça escândalo, suba nos tamancos. Pura emoção a tua performance.

Rodamos num carrossel de devaneio. Montamos a cavalo pelo ermo, onde nos desconhecemos. Quanto maior a diferença, mais trêmulos.

Tua vontade é uma gangorra. Quando está a bordo, me espicaça. Quando sai, me joga fora. Vê se desembarca desse convés e me abraça.

Quando não me querem mais eu vou me embora. Escolho o dia claro para todo mundo ver. À noite volto para fazer sombra ao teu retrato.

Nossa conversa deixou marcas. Quando voltas, elas berram.

Assim, em plena tarde, tens a manha da abordagem.


RETORNO- Imagem desta edição:  Angie Dickinson.