Nei Duclós
Tudo é para ti, flor do campo.
Voltaste? Então me beije. Não finja
que não me viste. Tudo em ti é desejo.
Escrevi para você uma carta cifrada.
Decifraste a charada? Diz: te quero.
Saudade tão funda que supera o
abismo.
Te assustei ao me tornar explícito.
Não tem mais como segurar, amiga.
Entenda o contrário, como sempre.
Gasto meu latim enquanto reproduzes o que jamais digo. Só o beijo cala tua calúnia.
Digo isso para todas que eu amo, que
é tu.
Você pensa que eu distribuo palavras
sem nenhum motivo, como se fosse um semeador maluco. Meu alvo é bem explícito.
Teu coração, passageira. Sou rápido no gatilho.
Não me acreditas. Te guias por
falsos sinais, aparências pífias. O que faço com as verdades que gastei à toa
contigo?
Não sei porque perco a palavra te
estendendo tapete. Vou para o lado oculto da Lua ler os santos.
Conseguiste me esvaziar antes do tempo.
Agora o que faço com a tarde morta?
Dentro de mim mora um pássaro de
gelo, que ressuscita quando tu, primavera, aproxima teu corpo.
Não sei porque perco a palavra te
estendendo tapete. Vou para o lado oculto da Lua ler os santos.
Desconheço o que te move, persona
sem rosto. Deixa-me com meu crepitar de chamas.
Unhas vermelhas repousavam nos dedos
de um descanso. Eram um grupo antes do agarro. Preparavam o bote fingindo sono.
RETORNO - Imagem desta edição: Natalie Wood.