8 de setembro de 2012

FLOR DO CAMPO



Nei Duclós

Tudo é para ti, flor do campo.

Voltaste? Então me beije. Não finja que não me viste. Tudo em ti é desejo.

Escrevi para você uma carta cifrada. Decifraste a charada? Diz: te quero.

Saudade tão funda que supera o abismo.

Te assustei ao me tornar explícito. Não tem mais como segurar, amiga.

Entenda o contrário, como sempre. Gasto meu latim enquanto reproduzes o que jamais digo. Só o beijo cala tua calúnia.

Digo isso para todas que eu amo, que é tu.

Você pensa que eu distribuo palavras sem nenhum motivo, como se fosse um semeador maluco. Meu alvo é bem explícito. Teu coração, passageira. Sou rápido no gatilho.

Não me acreditas. Te guias por falsos sinais, aparências pífias. O que faço com as verdades que gastei à toa contigo?


Não sei porque perco a palavra te estendendo tapete. Vou para o lado oculto da Lua ler os santos.


Conseguiste me esvaziar antes do tempo. Agora o que faço com a tarde morta?

Dentro de mim mora um pássaro de gelo, que ressuscita quando tu, primavera, aproxima teu corpo.

Não sei porque perco a palavra te estendendo tapete. Vou para o lado oculto da Lua ler os santos.

Desconheço o que te move, persona sem rosto. Deixa-me com meu crepitar de chamas.

Unhas vermelhas repousavam nos dedos de um descanso. Eram um grupo antes do agarro. Preparavam o bote fingindo sono.
 
 
RETORNO - Imagem desta edição: Natalie Wood.