13 de setembro de 2012

CARREIRA



Nei Duclós
 

Não apague o coração que imprimiste em meu caderno. Ele já não te pertence.

Ser fiel ao sentimento não é bom para a carreira. Por isso me demitem toda vez que te beijo.

Não posso te perder por meus defeitos. Passe ao largo como o barco no domingo sem feira.

Encerramos o expediente antes do sol nascer. O amor é traiçoeiro, separa quem se quer bem.

Meu amor não chega em ti, como o sol não ilumina Andrômeda.

Você está tão arrasadora em algumas fotos que fico tropeçando mais do que o normal. Acabas comigo.

Gosto quando não acreditas. Fico mais tranquilo. Dá até para dormir um pouco.

Vamos por terra, disse o marinheiro. Vamos pegá-los de surpresa.

O destino te batiza, absoluta. Ocupas todo o espaço disponível com teu esplendor de carisma.

Esqueci de te dizer. Vê se me lembra de amanhecer

Toda noite é a mesma coisa. Você me toca, eu danço.

Vê se não demora, já que me ama.

Capriche no espelho. Deixe comigo tua imagem, já que não me enxergas.

Não imagine o que vejo: nenhuma fantasia alcança o que treme em mim diante de teu desejo.

Gasto tudo o que tenho: a esperança de um beijo, o amor a passeio.

Fuja, arisca. Uma hora não conseguirás o drible.

Amor é quando a felicidade te prende. És cativo de uma cela aberta para o sonho

Quando passas rapidamente por mim lembro o quanto penso em ti todo o dia. Flor do desperdício.

Quando nem éramos nascidos, já te queria. O tempo escorreu e te tornaste esse exemplar do gênero glorioso.

Amor é uma tacada só, no decisivo lance. Prepare-se, sonâmbula.

al refeito da noite em claro, me levas para passear na feira da cidade estranha. Éramos dois migrantes com a cara lavada pela absoluta falta de vergonha.

Apontaste o lugar ao teu lado quando eu estava solto. Pousei como se fosse um escolhido da divindade. Amarraste então o laço que desaguou no primeiro orgasmo.

Nada sei do que é mais importante: a curvatura dos teus olhos quando cai o sereno.

A beleza é a armadilha para não esquecer do que somos feitos. Ela nos surpreende no momento em que mais precisamos, quando perdemos a esperança de beijá-la.

Não fossem teus ombros, viver sem amor seria suportável. Mas toda vez que lembro deles ou toco de surpresa, caio em parafuso.

Que faço do amor quando não estás perto? Guardo no bolso esquerdo? Alimento com sonetos? Levo para um passeio? Ou espero que venhas olhando para a janela?


RETORNO – Imagem desta edição: Sandra Bullock.